segunda-feira, 4 de maio de 2009

Prender a respiração só por mais alguns anos

Gostaria muito de inaugurar este espaço com boas notícias. E não haveria melhor notícia para dar do que esta, fresca, desejada, em primeiríssima mão: a crise terminou. A depressão tornou-se euforia, os cortes em expansões e os empregos multiplicam-se como cogumelos. Podemos – e devemos, trata-se de um imperativo moral – desatar todos a consumir como se os amanhãs cantassem outra vez.
Mmh, admito, poderia estar a antecipar a boa nova na pressa de ser o primeiro a apontá-la, mas tanto optimismo induzido não seria muito diferente do que nos últimos tempos foi possível ouvir de pessoas com responsabilidades na matéria. O presidente americano, Barack Obama, fala em “brilho de esperança” – mas apenas porque a produção e o mercado imobiliário já não estão a cair tão rapidamente. A ministra da Economia britânica falava há tempos nos “primeiros indícios” da recuperação – no mesmo dia em que, só para contrariar como habitualmente, grandes empresas inglesas anunciaram despedimentos e a Bolsa caiu 5%. Os media? Igualmente confusos (“Sinais vindos dos EUA indicam que o pior pode já ter passado”, anuncia o “Público” a 1 de Maio; “Investimento cai e recessão agrava-se nos EUA”, manchete do “Le Monde” a 2 de Maio). BCE, FMI, pelas vozes com forte sotaque francês dos seus presidentes, prevêem que daqui a um ano a retoma apareça algures pelos Estados Unidos, enquanto vão avisando que hoje em dia é muito difícil fazer previsões. No entanto, como em economia repetir muitas vezes e a muita gente que “as coisas vão melhorar” pode mesmo contribuir para que elas melhorem, professa-se a fé inabalável em que os incertos e difíceis tempos de contracção em que vivemos vão acabar rapidamente.
A sóbria realidade: mesmo quando acabarem, não terão acabado. Nas economias ocidentais o desemprego dispara actualmente para níveis (muito) superiores a 10% da população activa. A recessão de 2001 (muito mais fraca que a actual) durou oficialmente apenas 8 meses, mas o desemprego continuou a crescer durante mais ano e meio. O mesmo se passou em 1991 e o mesmo, só que de forma muito mais prolongada, acontecerá desta vez. Porque o crescimento anémico não é suficiente para gerar emprego e por outras variadas razões, mas também porque as nossas sociedades são baseadas no consumo narcotizante e hoje ninguém está para grandes compras.
Se eram boas notícias as que eu procurava, deveria ter escolhido outro assunto.

1 comentário:

  1. Caro Hugo. Sei que és um acérrimo defensor da liberdade e é por isso que ouso pedir que divulgues esta informação pelo blogues amigos, da maneira que entenderes. A lei da imprensa e a protecção das fontes foram bafejadas no Luxemburgo, no nosso jornal, um jornal português no Luxemburgo, o CONTACTO.
    Foi ontem e pela Polícia luxemburguesa, que apreendeu material e um bloco-notas de um dos nossos jornalistas.
    Envio-te a noticia como vinha hoje na Lusa e podes verificar igualmente nos sites dos repórteres sem fronteiras e na federação internacional de jornalistas os factos:

    Aqui vai a notícia completa da Lusa, em que se diz que tanto o Conselho de Imprensa Luxemburguês como os Repórteres Sem Fronteiras (RSF), como a Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) nos seus sites condenam a acção da Polícia luxemburguesa:
    ----------------
    Luxemburgo: Polícias confiscam bloco de notas e ficheiro de computador em jornal português

    Lisboa, 08 Mai (Lusa) - Dois polícias, acompanhados por um técnico em informática, estiveram na quinta-feira na redacção do Contacto, semanário português publicado no Luxemburgo, de onde levaram um bloco com notas de reportagem e o ficheiro de um computador.

    Segundo disse à Agência Lusa, em contacto telefónico, o chefe de redacção do jornal, José Correia, inicialmente os dois agentes informaram que o Contacto tinha violado a Lei de Imprensa ao divulgar nomes de dois menores numa reportagem publicada em Dezembro, relativamente aos casos de uma rapariga e um rapaz retirados à respectivas famílias e colocados num internato.

    Pediram uma cópia do referido artigo em suporte informático e daí a pouco apresentaram um mandado passado por um juiz para uma busca à redacção e a apreensão do bloco de notas da reportagem.

    Já na sala de redacção, o técnico que acompanhava os agentes descarregou para uma "pen" ficheiros do computador do jornalista que fez a reportagem, a quem foi também exigida a entrega do bloco de notas.

    José Correia disse à Lusa que esta acção da polícia luxemburguesa, além de pôr em causa a protecção das fontes é "desproporcionada" face à reportagem em causa, de que resultou uma queixa do assistente social envolvido no caso dos dois menores por alegada "difamação e calúnia".

    O chefe de redacção do Contacto alegou que a lei de imprensa luxemburguesa proíbe buscas em redacções e no domicílio dos jornalistas, excepto em caso de tráfico de estupefacientes, terrorismo, branqueamento de dinheiro ou risco para a segurança do Estado, assuntos que nada têm a ver com a reportagem em causa.

    Na segunda-feira, os advogados do jornal irão solicitar à Justiça a anulação do mandato e a devolução do bloco de notas e dos ficheiros retirados do computador.

    "O caso deverá ser objecto de investigação para evitar a sua repetição", afirmou ainda José Correia, considerando que estas actuações da polícia "são raras, senão inéditas" no Luxemburgo e devem ser travadas quanto antes.

    Os Repórteres Sem Fronteiras, a Federação Europeia de Jornalistas e três sindicatos luxemburgueses já se solidarizaram com os jornalistas do semanário Contacto e condenaram a acção policial, que atenta contra o direito daqueles profissionais de protegerem as suas fontes.

    ResponderEliminar