terça-feira, 2 de junho de 2009

O sofá de veludo de 1979

O Parlamento Europeu criou um sítio web expressamente dedicado às eleições europeias deste domingo (isto no Luxemburgo ou em Portugal; os Países Baixos e o Reino Unido dão o pontapé de saída já na quinta-feira). Talvez a característica mais interessante que lá figura seja a "máquina do tempo": uma comparação directa entre 1979, data das primeiras eleições directas para o Parlamento Europeu, e ano da graça de 2009. Ali podemos ver duas fotos da mesma sala de estar – simbolizando a nossa "casa comum", a Europa – a primeira em estilo muito 70s, no seu papel de parede com motivos laranja e os sofás em veludo faux castanho, e a segunda resplandecente de branco nos seus móveis Ikea e no enorme ecrã plasma. Dentro da imagem, cada item em que clicamos – desde as latas de bebidas até à foto emoldurada na parede – permite ao cidadão obter uma ideia muito genérica da evolução da construção europeia em várias áreas nos últimos 30 anos. E esta comparação, desde o que fazemos com a energia à mobilidade ou a defesa pela ecologia, dá algum reconforto - mas só nos primeiros segundos, pois logo em seguida vem à ideia que decisões fundamentais para nossa vida são tomadas em contínuo e está tudo por fazer. E é disso que se trata numas eleições onde quase 500 milhões de europeus vão escolher os seus representantes para uma câmara democrática e diversa cujos poderes não param de aumentar. Só nos dois últimos meses, foram adoptadas resoluções tão diversas e de alcance tão global como um pacote legislativo de telecomunicações, sempre na perspectiva da defesa do consumidor, ou a proibição do comércio de carne de foca (que levou uma ministra do Canadá, país que mata a maioria das focas no Ártico, a comer um coração de foca cru em frente às câmaras).
As eleições europeias têm perdido paulatinamente participação a cada escrutínio e, embora seja provável que essa tendência se venha a inverter esta semana, tal é reflexo de vários factores. Os eleitores estão fartos de "política" (uma palavra nobre que hoje quase soa obscena) e perderam a sentido da "res publica", bem como a ilusão de poder influenciar o estado das coisas. E é verdade que instituições europeias geograficamente distantes e que não conseguem deixar de ser vistas como algo autistas, visão que é empurrada por um punhado de deputados europeus pouco activos, não ajudam. Pois bem, é altura de começar a olhar para a metade do copo que está cheia, é isso que nos lembra a "máquina do tempo" (em http://www.eleicoes2009.eu); graças a estas eleições, a definição dos próximos 5 anos, na Europa e no mundo, começa por nós. Não estou a ver o que possa ser mais importante de fazer no domingo.

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