Em Novembro de 1989, a situação na Alemanha de Leste era de turbilhão. O velho líder Erich Honecker, o mesmo que tinha em Janeiro afirmado que “o Muro durará mais cem anos”, tinha sido forçado a demitir-se havia duas semanas e a nova direcção do Partido Comunista, pressionada pela abertura das fronteiras nas vizinhas Hungria e Checoslováquia e por uma manifestação gigantesca em Alexanderplatz no dia 4, reúne na manhã do dia 9 e decide abrandar as restrições aplicadas a visitas ao Ocidente, prevendo mesmo a concessão de vistos temporários a cidadãos comuns, dentro de pouco tempo. É o porta-voz do Governo, Günther Schabowski, detentor no regime do cargo de secretário-geral da Propaganda, quem tem a incumbência de anunciar a medida à população. Schabowski senta-se para a conferência de imprensa acabado de regressar de uns diazinhos de férias e desconhecedor dos últimos desenvolvimentos; nas mãos tem apenas uma pequena e incompleta nota do Politburo. Quando os jornalistas lhe perguntam a partir de quando é que as restrições começarão a abrandar, o titubeante Schabowski afirma: “Tanto quanto sei, imediatamente!”. Num primeiro momento os jornalistas nem podem acreditar no alcance daquelas palavras. Segundos depois, a História começa a sua marcha inexorável: milhares de berlinenses inundam as cercanias do Muro e exigem aos atónitos guardas, os mesmos que atiraram para matar centenas de vezes ao longo de 28 anos de existência do Muro, entrar em Berlim Oeste. Depois de desesperados telefonemas sem sucesso para um poder que já não existia, os guardas acedem. A euforia é indescritível e os chamados “pica-paus” (pessoas que com picaretas ou guindastes deitaram abaixo o cimento grafitado) começariam no próprio dia o trabalho de demolição dos 156 km do Muro.

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