segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os gigantes também caem, mesmo que se chamem Toyota

“How the Mighty Fall”, ainda sem edição em português mas que se poderia traduzir por “Como caem os poderosos”, é um livro escrito pelo especialista em gestão Jim Collins e publicado há alguns meses. Nele o autor identifica cinco fases sucessivas do declínio de grandes e bem-sucedidas organizações humanas – o objecto da análise são as empresas, mas não é difícil transpor os argumentos para universidades, clubes de futebol, países ou mesmo civilizações… Registe-se que aos cinco estádios sucessivos da queda, Collins chamou: 1. Arrogância devido ao sucesso; 2. Procura indisciplinada de mais e mais; 3. Negação de riscos e perigos; 4. Desespero pela salvação e 5. Capitulação perante a irrelevância ou morte.

Conta-se que Akio Toyoda, neto do fundador da Toyota e presidente da maior fabricante de carros do mundo (9 milhões de veículos vendidos em 2008…), ficou muito impressionado após ler o livro, situando a sua companhia pelo menos no terceiro nível, mas mais provavelmente no quarto. De repente, o presidente de um gigante com mais de 300 000 assalariados, criador de toda uma cidade no Japão, orgulhoso de se ter tornado o maior construtor automóvel do mundo (ultrapassando a americana GM) e reputado construtor de sólidos produtos lançava ao mundo declarações muito pouco ortodoxas pelo negrume contido, com referências a “arrependimento ou morte”. Isto foi em Agosto.

Seis meses depois, o horror pressentido por Akio desvendou-se. Pressionada por mais de 2000 incidentes de “aceleração não desejada” – causando pelo menos 19 mortes – a Toyota decide-se finalmente a recolher e consertar os aceleradores de nada menos de 8 milhões de carros, na Europa, nos Estados Unidos, na China e em toda a parte. E como cereja no topo do amargo bolo, até o Prius, veículo destinado não a ser lucrativo mas a apresentar a Toyota como uma empresa nas vanguardas tecnológica e ecológica, não trava bem. Akio Toyoda escreveu esta semana ao mundo: “Lamento profundamente as inconveniências causadas…”

Ainda mais danosas para a marca do que os problemas técnicos são as revelações de que a Toyota já recebia queixas sobre estes problemas desde… 2003. E, como bom gigante em declínio, em plena fase 3 de Collins, nada fez, numa indesejada metáfora de todo um país, o Japão, estagnado numa “década perdida”. Agora pode ser demasiado tarde para a salvação – os concorrentes, grupo Volkswagen à cabeça, parecem muito determinados a arrebatar o ceptro de maiores do mundo.

Já fui o feliz proprietário de dois Toyotas; não desiludiram, não entusiasmaram. Dificilmente procurarei um terceiro, mas o livro de Jim Collins, esse aconselho-o vivamente.

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