Quando um país de 200 milhões de habitantes tem convulsões, o mundo toma
nota. Sobretudo quando esse país representa uma potência ascendente, daquelas
que pode vir a influenciar o mundo nas próximas décadas: senhoras e senhores,
eis as dores de crescimento do B dos BRICs, o Brasil.
250 000 pessoas saíram à rua em mais de 100 cidades brasileiras, e muitas
outras onde a diáspora do país é importante (incluindo Lisboa e Porto). Os
protestos, agora um pouco mais suaves, continuam – maioritariamente pacíficos,
mas entrecortados por combates desiguais com a polícia militar. De um aumento
dos bilhetes de autocarro em S. Paulo equivalente a cerca de sete cêntimos de
euro nasceu o movimento V de Vinagre,
uma sátira certeira ao ridículo que constitui ver pessoas na cadeia por
transportarem consigo vinagre (que reduz os efeitos dos gases pimenta e
lacrimogéneo atirados pela polícia), ao mesmo tempo que faz uma referência
directa a V, o mascarado anti-totalitário do filme V de Vendetta.

Outra pergunta é em forma de autocrítica. Os brasileiros perguntam-se “será
que mais uma vez vai tudo acabar em pizza?”
Ou seja, após uma discussão violenta volta a calma, o sol volta a
brilhar e tudo se mantém exactamente como antes? Os protestos no Brasil são
complexos: um mosaico de causas, uma indefinição quanto às reinvidicações, a
diversidade dos manifestantes... e a alta popularidade de que a presidente
Dilma Roussef continua a gozar. A isso não será alheia a sua habilidade
política ao colocar-se quase do mesmo lado de quem, nas ruas, protesta contra o
“governo” que ela personifica – tremendo contraste com o ditador eleito Erdogan
que, na Turquia, continua a bramir contra as redes sociais que permitem que
alguém ainda fuja ao seu controlo. Mas seja ali ou no Brasil, como antes na
Grécia, na Bulgária ou em Espanha, e no futuro em Portugal, há uma
indisfarçável impaciência na sociedade: urge melhorar as regras do jogo. É isso
que a rua nos está a dizer.