terça-feira, 13 de outubro de 2009

Reinventar o Rio de Janeiro é uma ideia maravilhosa


O Rio vai organizar os Jogos Olímpicos em 2016 e esse atribuição de responsabilidades à Cidade Maravilhosa, tão bem-vinda quanto relativamente inesperada, vai consistir no primeiro grande projecto de renovação – mais do que isso, de reinvenção – urbana deste século XXI. Claro que as anteriores Olimpíadas realizadas em Sidney, Atenas e Pequim, bem como a de 2012 a ter lugar em Londres, provocaram também grandes mudanças na face destas grandes aglomerações humanas, mas o que está em causa no Rio de Janeiro é diferente: trata-se de recuperar, renovar e relançar – não tenho pejo em dizê-lo, trata-se de salvar – um dos locais míticos da Terra, a casa (e não por acaso Ruichi Sakamoto escolheu uma foto do Rio ao amanhecer como capa do seu excelente disco “Casa”...) de cerca de 12 milhões de pessoas em toda a sua área metropolitana. Uma casa que oscila entre a mansão em ruínas e o bairro social degradado.

O Rio de Janeiro, capital brasileira por mais de 200 anos até 1960, a capital do Império português por 13 anos (1808-1821), a capital simbólica e espiritual da brasilidade, da América do Sul e de toda uma certa forma de ver e viver a vida, o local de nascimento do “malandro” e da bossanova, a detentora do título oficioso de “cidade mais bela do mundo”: a grande cidade está marginal, maltratada e maltratante, estar lá é uma prova de coragem e resistência, não só um privilégio. É uma cidade bloqueada com problemas profundos, e os Jogos Olímpicos constituem a sua grande oportunidade. O que está em jogo é enorme: simplesmente, tornar a cidade no desejável epicentro de um novo Brasil poderoso e global, cuja economia deverá ser a quinta maior do mundo em 2016. Banco Mundial dixit.

A tarefa é titânica. Para os Jogos propriamente ditos, os maiores problemas a resolver são a falta de segurança (um eufemismo, numa das cidades mais violentas do mundo), os caóticos e poluentes transportes à base de autocarros (o metro é limitado) e as insuficiências de alojamento (faltam 20 000 camas em hotéis). Mas há também questões ambientais gigantescas na cidade que acolheu a primeira grande conferência mundial sobre o ambiente, em 1992. Os JO vão proporcionar a motivação ideal para despoluir as águas da baía de Guanabara e da lagoa Rodrigo de Freitas. Mas claro, as gigantescas favelas continuarão sem água potável ou recolha de lixo, muito menos vão deixar de existir. Os Jogos não resolvem problemas sociais, só podem – e não é pouco – mudar uma cidade. Só que para isso é preciso muita pasta, e o Brasil pensa investir 246 mil milhões de euros a preços correntes no Mundial de 2014 e nos Jogos de 2016; o mesmo dinheiro chegaria para construir sensivelmente 35 TGVs portugueses, ou 70 aeroportos de Alcochete. O importante, dizem, é mesmo competir.

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