segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Uma década de Barroso

Há um português que faz parte daquele restrito, muito restrito grupo de governantes verdadeiramente globais que podem (querendo e sabendo) influenciar as grandes decisões a tomar – por exemplo em alturas de grave crise económica – e que aparecem em todas as fotografias que realmente interessam – como aquela na famigerada cimeira dos Açores que decidiu a invasão do Iraque, juntamente com Bush, Blair e Aznar. Esse português chama-se José Manuel Barroso e foi reeleito na semana passada como presidente da Comissão Europeia por mais cinco anos. Em 2014, os europeus terão visto nada menos que dez anos de Barroso como presidente da instituição que é o tradicional motor da construção europeia, longevidade de que apenas o primeiro presidente da Comissão, o alemão Walter Hallstein, e o mais conceituado de todos, o francês Jacques Delors, se podem igualmente gabar.
Claro que existir um "presidente da Comissão Europeia português" é relevante pelo prestígio internacional; e também é possível, embora não demasiado provável, que a acrescida influência política do país possa ser importante para, por exemplo, assegurar sempre importantes fundos de coesão para Portugal. Acresce que Barroso era o único candidato proposto, o que significa que terá alguns méritos. Esses argumentos são esgrimidos sempre que um português balbucie algo que possa ser assemelhado a criticismo ao primeiro mandato barrosista. E no entanto…
No entanto, poucos europeístas estão especialmente entusiasmados com a reeleição de um presidente que viu a Comissão perder, uma vez mais, protagonismo e cuja reacção à crise financeira foi tardia, tímida e muitas vezes ignorada; uma Comissão que passa um teste crucial em duas semanas, devido ao referendo na Irlanda, e que se for aí bem sucedida terá de conviver com um Conselho Europeu ainda mais poderoso; uma Comissão que não tem um verdadeiro troféu para apresentar relativamente aos cinco anos passados, e cujo presidente é acusado amiúde de "não ter uma ideia para a Europa e ter passado demasiado tempo preocupado com a sua reeleição" (Die Zeit) ou de ser "apenas o joguete nas mãos de Angela Merkel" (Wolfgang Münchau do Financial Times, e Münchau não é qualquer um). O Le Monde refere-se a um dos seus epítetos políticos – o de "camaleão". Ao elegê-lo, o Parlamento Europeu exigiu-lhe efectivamente que mude, não de cor (o bronzeado de Barroso é sempre leve) mas de políticas. Veremos se daqui a mais cinco anos a oportunidade terá sido aproveitada.

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