segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O anticlímax de Lisboa


Acaba de entrar em vigor, por fim, o Tratado de Lisboa. 1 de Dezembro de 2009 é uma data que vai figurar em todos os compêndios históricos sobre a União Europeia; a partir deste dia, foi dado mais um passo importante para a unificação do continente, para o melhor funcionamento das suas instituições e para o crescimento da presença europeia no mundo.

As primeiras decisões importantes tomadas sob a égide do novo tratado foram, naturalmente, sobre quem iria preencher os imponentes novos cargos criados na constelação dourada e azul. E a União, masoquista, decidiu não em função de si própria e dos seus interesses comuns (sobretudo exteriores), mas sim tomando em conta todas as suas limitações internas. Foi escolhido quem (ao contrário de Juncker com Sarkozy, por exemplo) nunca tinha aborrecido ninguém. Ou seja, perfeitos desconhecidos.

É legítimo perguntar neste momento: era mesmo necessário criar um novo cargo de presidente do Conselho que se sobrepõe ao já existente? Se a intenção era entregá-lo a um obscuro e veterano burocrata cuja visão sobre a Europa era desconhecida até há menos de um mês atrás, quando Van Rompuy fez um discurso de alguns minutos numa reunião do grupo Bilderberg – um poderoso clube que prima pelo secretismo –, então a resposta seria provavelmente não. Se a isto adicionarmos uma Alta Representante, Catherine Ashton, que nunca foi eleita para qualquer cargo, era há cinco anos subsecretária de Estado responsável pelos arquivos do parlamento inglês e não tem qualquer tipo de experiência diplomática, obtemos a receita para uma Europa funcionando em circuito fechado. O temido “método intergovernamental” entrou em acção; mais uma vez, os grandes países obtiveram o que desejavam, eminências pardas que não lhes fazem sombra – e dão uma pálida imagem de uma Europa que se arrisca, a continuar por este caminho sinuoso, a acordar num mundo irremediavelmente dividido entre EUA e China. E isto quando a União Europeia a 27 representa a maior economia do mundo!

A Europa foi desiludida. Onde lhe prometeram coragem, deram-lhe modéstia. Onde deveria estar a potência política, está um ex-primeiro-ministro tardio, temporário e não sufragado. Onde era preciso um símbolo de união, foi colocado um especialista da diversidade. A desejada independência da diplomacia europeia vai ser posta em marcha por uma oriunda da Grã-Bretanha, tradicional seguidora dos Estados Unidos.

Lisboa, como panaceia dos males de que padece a indecisa Europa, começa mal. Mas estas personalidades podem sempre revelar-se óptimas e agradáveis surpresas – e dada as baixas expectativas, têm mesmo todas as condições para isso. É mais que tempo de deixar de tergiversar e passar a agir – o comboio da História não espera por ninguém, nem mesmo pelo belo ideal de uma Europa em paz, livre, próspera e unida.

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