
A Alemanha actual já não está agrilhoada pelo seu terrível passado; a geração no poder viveu na sua juventude 1989, o ano da queda dos muros, e embora carregue ainda aos ombros algum sentimento de culpa colectiva, dá passos firmes no sentido do renascer de um orgulho benigno. O exército desfila em Paris e participa em missões no estrangeiro (Afeganistão); durante o campeonato de 2006, os germânicos agitaram a sua bandeira negra, vermelha e dourada como verdadeiros discípulos scolarianos (os portugueses aliás também, o que enfureceu alguns sectores da intelligentsia luxemburguesa). Mais significativo: a Alemanha, verdadeira inspiradora de uma Europa funcionando como enquadramento e caixa amplificadora da sua relevância mundial, está um pouco cansada de pagar as facturas e, para desespero dos que querem uma UE forte e agindo em bloco, tem interesses de curto prazo muitas vezes divergentes dos europeus e age, qual França ou Reino Unido, apenas em função destes.
A Grécia descobriu-o da forma mais dura – e Portugal pode seguir-lhe os passos. A depauperada economia grega sofre e a ajuda financeira é mitigada e tardia, sob o signo do redutor argumento “as cigarras gregas podem reformar-se aos 57 anos, enquanto as formigas alemãs terão em breve de trabalhar até aos 67”. Não há dúvidas de que são precisas alterações dolorosas nas economias do sul da Europa, e de que a Alemanha comprimiu de forma brutal os salários nos últimos 10 anos de forma a manter-se competitiva (custos unitários do trabalho caíram 1,4% entre 2000 e 2008, enquanto em França e Luxemburgo não pararam de subir...); mas os desequilíbrios não podem ser corrigidos só por um lado. Os défices grego ou português acontecem também porque estes países, não podendo desvalorizar a sua moeda, perdem competitividade e importam maciçamente bens alemães (a Alemanha exporta metade dos seus bens para a UE). Não o reconhecer, e sobretudo não o corrigir – fazendo os alemães gastar mais dinheiro, seja em turismo ou vinho do Porto... –, não é a longo prazo do interesse de nenhum europeu. E pode mesmo levar ao desmembramento da zona euro.
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