sábado, 15 de janeiro de 2011

Mantenham a internet livre



Acabou agora uma semana que mostrou mais alguns sinais interessantes sobre a crescente revolta que grassa nas sociedades ocidentais contra... bem, uma enorme lista de coisas. Desemprego, perda de poder de compra, insegurança ou sentimentos mais profundos e difíceis de definir mas que, de forma ou de outra, acabam atirados (e muito justamente por vezes) para a responsabilidade de governantes (e outras, diferentes, elites). O protesto é algo de cada vez mais virulento - na verdade, por vezes começa a assemelhar-se à guerrilha urbana.

A princípio as populações começaram a desinteressar-se do processo democrático, considerando que o (mínimo de envolvimento) que significaria comparecer para votar não vale o esforço. Mas esse sinal foi ignorado e as elites políticas continuaram no seu "business as usual" assumindo, como sempre, que tal divórcio com as populações nada significava - e na verdade até agradecendo o seu alheamento, que chega a ser conveniente.

Em seguida veio o voto "de protesto". Crescente, e ainda a crescer; vários países europeus (tal como os Estados Unidos com o movimento Tea Party) vêem partidos populistas, extremistas e que se apresentam como "anti-sistema" ganhar terreno a cada eleição, captando votos e influência nas franjas do sistema político. Eles são muito visíveis no Parlamento Europeu, numa eleição que com o tempo é cada vez menos participada - por ironia, simultaneamente que a instituição adquire mais competências e poderes.

Pois bem, os próximos passos serão mais radicais. O Reino Unido assistiu agora a alguns momentos de rebelião que, na sua violência e inverosimilhança, deixam antever uma mudança profunda da sociedade actual. Uma multidão enfurecida contra mais uma medida de cortes sociais do governo deparou-se com o Rolls-Royce dourado do príncipe Carlos (e respectiva Camila) que, impávido nos seus privilégios adquiridos à nascença, e eventualmente recorrendo ao habitual magnânimo aceno imperial, procurava abrir caminho por entre aquele magote de súbditos. Só que estes, amargos, não estavam para vénias: em vez disso, partiram um vidro do carro aos gritos de "cortem-lhes as cabeças" (aos excelsos representantes da realeza). A ideia, importada de França, tem mais de dois séculos e faz pensar. Sobretudo se aliada à rebelião que a internet, sempre esta, tem vindo a proporcionar a quem está farto das velhas formas de funcionar do Estado-nação, também ele uma ideia - napoleónica - importada da França daquela época. A WikiLeaks e os seus defensores - tantos deles se podem considerar a "maioria silenciosa" provinda da sociedade civil - provam que os Estados não dominam tanto a informação como antes sempre fizeram. Também provam que isso não agrada a esses mesmos poderes: depois da tentativa de asfixiação da organização noticiosa, preparem-se para que os Estados tentem tomar de assalto a abertura, a democraticidade, a privacidade e a liberdade da rede. Vai poder ler sobre isso muito brevemente num jornal perto de si; por mim, só espero que esse assalto seja mal-sucedido.

Sem comentários:

Enviar um comentário