Imediatamente – e ainda antes de alguém averiguar o que se passou ao certo nos dois aviões - companhias de aviação e aeroportos se uniram para reclamar “novas medidas de segurança”. Tradução: mais atrasos, mais filas, mais invasões da privacidade, mais aborrecimentos, mais custos. Custos para os pobres passageiros, evidentemente, que suportam a subida astronómica das taxas aeroportuárias nos últimos anos (o Porto já cobra mais de 35 euros por uma partida, um dos mais altos valores da Europa). Centenas de milhares de pessoas, após um árduo ano, não têm outra alternativa senão pagar preços inflacionadíssimos só para passar alguns dias com a família no Natal – mas tal

O segundo incidente ocorrido num voo para Detroit esta semana não passou de um passageiro que “esteve cerca de uma hora na casa-de-banho e, quando interpelado, reagiu mal”, segundo comunicou o FBI. Discussões deste género acontecem milhares de vezes por dia, e até na minha casa-de-banho. Mas esta, propositadamente repetida e amplificada por todos os media mundiais, servirá de pretexto para “medidas” como a Air Canada já anunciou: na última hora do voo, todos os passageiros são obrigados a ficar colados ao assento. Outras companhias pensam proibir o acesso à própria bagagem de mão. Numa decisão que é pelo menos mais honesta – porque busca declaradamente o lucro sem estar travestida de “medida de segurança” – a Ryanair vai começar a cobrar 1 euro por cada utilização das “toilettes” – há uns anos, em Portugal, o controlo do tempo aí passado pelas funcionárias de empresas têxteis provocou um clamor social, mas vemos agora que tais tácticas humilhantes pecavam apenas pelo amadorismo.
Tanta imaginação para extorquir mais tempo e dinheiro aos passageiros, mas basta um dia de neve como o passado 20 de Dezembro para cancelar os voos de meia Europa, como se a água congelada fosse uma ameaça tão letal e inesperada. Definitivamente, as companhias de aviação não estão de acordo com a máxima de que a viagem faz parte integrante do prazer de viajar.