quarta-feira, 16 de junho de 2010

Agora começa a ser a sério


"O fracasso do euro significaria o fim da Europa". Angela Merkel acordou para as duras realidades dos mercados financeiros e começou finalmente a explicar aos alemães porque é que é essencial salvar os gregos, os portugueses, os espanhóis e todos os governos europeus que andaram a gastar por conta (o ex-secretário do Tesouro britânico, um trabalhista, acaba de deixar uma singela mensagem por carta assinada ao seu sucessor conservador: "Caro secretário: já não há dinheiro". No Tesouro do Reino Unido, entenda-se).

A retórica política passou de repente de soporífera a explosiva: até há bem pouco tempo, a enunciação da palavra "fracasso" era raríssima entre os líderes europeus, e conjugar sequer a possibilidade do "fim da Europa" seria sinal de extremismo ou irresponsabilidade. Mas os tempos estão a mudar – e cada vez mais rápido. Merkel pronunciou as suas palavras em plena entrega (ao primeiro-ministro polaco Donald Tusk) do prémio Carlos Magno em Aachen, ocasião solene que celebra a causa e o espírito europeus. Outros líderes têm contribuído para um sentimento apocalíptico. "A França ameaçou sair do euro se a Alemanha não interviesse", foi a inconfidência de Zapatero; "A Europa atravessa a sua pior crise desde a Segunda Grande Guerra", disse no domingo o presidente do BCE, Trichet, conseguindo ainda adensar o tom histórico. O timing, pelo menos, foi bom: o fim-de-semana que passou foi mesmo absolutamente histórico e a Europa respondeu a um grande mal com um grande remédio e um gigantesco passo em frente.

O grande remédio é um comprimido absolutamente colossal feito de 750 mil milhões de euros. Para se ter uma pequena ideia, o valor representa cerca de quatro vezes o PIB de Portugal (e 20 vezes o do Luxemburgo), foi constituído com fundos comunitários, do FMI (o que significa também de EUA, Canadá e Japão) e dos Estados-membros da UE, e será utilizado para dar liquidez a países incapazes de se financiar no mercado – ou seja, salvá-los. Mas o mais interessante é o grande passo em frente: o primeiro no sentido de uma verdadeira união política e económica europeia. O euro foi criado há 11 anos e já prestou muitos e bons serviços às nossas economias, mas está incompleto: uma união monetária não pode sobreviver a longo prazo com comportamentos divergentes e sem a correspondente união de políticas económicas. Este "fundo monetário europeu" – e as condições de disciplina que a Alemanha vai estabelecer para o criar – é o início dessa união, e já provocou que alguns países tenham em alguns dias dado reviravoltas de 180º e deixado de brincar aos endividamentos. O governo português, por exemplo, adiou para as calendas... gregas... os projectos faraónicos de uma nova ponte e aeroporto, que insistia em manter enquanto aumentava impostos e cortava na despesa. Mais uma vez, Bruxelas provou ter muito mais juízo que Lisboa.

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