sábado, 15 de janeiro de 2011

A próxima língua franca

Há apenas nove grandes línguas neste nosso mundo, se o critério for um número de falantes superior a 100 milhões de pessoas. São elas o mandarim, inglês, espanhol, hindi, árabe, bengali, russo e japonês. E também o português, claro, a quinta língua a nível mundial (outras classificações consideram-na a quarta ou a sétima, dado que o número de falantes é difícil de quantificar). Uma língua que serve como língua materna para 180 milhões de pessoas, com mais cerca de 20 milhões que a também a falam – muito mais gente que francês e alemão somados, por exemplo (obviamente, podemos ainda adicionar a outra língua oficial do Grão-Ducado, o luxemburguês, que o resultado não muda, dado que esta é uma língua considerada “em perigo de extinção” pelos especialistas). A força dos números impressionantes atingidos por este belo dialecto nascido originalmente de um desvirtuamento do latim originam algumas conclusões inevitáveis. A primeira é (pausa para expirar): bom trabalho! É algo de admirável que a língua de comunicação principal (longe sequer de ser a única) dos habitantes do Portugal do século XV, pequena migalha no mapa mundial que não continha mais de milhão e meio de habitantes, seja hoje uma das mais vibrantes, difundidas e importantes do mundo. Muita arte e engenho (mas também violência) foram certamente necessários para construir um império onde o sol não se punha.

Mas se essa dimensão invejável foi atingida, também é verdade que o crescimento da língua portuguesa parece agora esbarrar contra um “telhado de vidro”, invisível mas bem real. O português é, juntamente com o hindi, a maior língua do mundo que não é uma das (seis) línguas oficiais das Nações Unidas; nas instituições da União Europeia, a sua visibilidade é reduzida; na Europa, os media em português são dificílimos de encontrar, excepção feita ao indecoroso saudosismo da RTPi; e a rede de possibilidades de aprendizagem da língua não tem crescido em volume ou orçamento. Acresce que os nacionais portugueses (cuidado: segue-se uma perigosa generalização) não primam, muitas vezes, pelo bom tratamento dado à sua língua e muito menos pela vontade que exibem em defendê-la e divulgá-la.

Mas eis que, despertos da poeira dos séculos, novos campeões se levantam para levar mais alto o português: o país cuja economia mais cresce anualmente no mundo, Angola (cujo PIB subiu 20% em 2008), leva muitos a aprenderem a língua para poderem fazer negócios. E sobretudo o Brasil, um país em progresso acelerado a todos os níveis, jogador à escala global, criou, na maior cidade lusofalante do mundo (São Paulo), o Museu da Língua Portuguesa, que exibe até ao final deste mês uma enorme exposição sobre Pessoa. O mesmo Brasil que, através da sua pujança económica potenciada no Mercosul, consegui mesmo pôr os orgulhosos porteños, habitantes de Buenos Aires, a aprenderem mais português que inglês. A propósito: acaba de ser publicado em Inglaterra um livro que defende a teoria que os dias do inglês como língua franca mundial estão contados, e que não há ainda um substituto claro a emergir. Pode ser que a beleza da bossanova faça pelo sotaque musical do Rio o mesmo que Hollywood fez pelo californiano. Seria bem legal.

2 comentários:

  1. Много добри наблюдения!
    От опита си на учещ португалски език ще се съглася, че няма ясно и целенасочена политика по разпространение на португалски език. Поне не в Европа. На чисто практическо ниво бих посочила, че методите на преподаване са остарели, не се публикуват нови учебници и помагала. Дори речниците, които се издават и преиздават, отбелязват промените съгласно поредната правописна реформа, но не се обновяват като съдържание и формат. Да намeриш вестници, списания и книги на португалски извън Португалия е загубена кауза.

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