E no entanto este improvável lugar tornou-se repentinamente na linha da frente do combate total travado entre os defensores dos poderes públicos e do seu papel nas nossas sociedades, e aqueles que defendem o seu desmantelamento como forma de “agilizar” as nossas economias. Um combate que, como o leitor bem sabe, é divisivo, é duro, e tem barricadas bem definidas, tanto nos Estados Unidos como na Europa. E existe algo mais em comum nos dois continentes: o pêndulo da história está, desde os anos 1980, claramente inclinado para a direita.
O Wisconsin, primeiro estado americano a introduzir um subsídio de desemprego (nos anos 1930) e historicamente bastião democrata, conta com uma espécie de “contrato social” à americana: os sindicatos da função pública negoceiam colectivamente com a administração pública. O sistema tem dado bons frutos numa economia onde 7 dos 10 maiores empregadores são públicos. Mas existe um défice. Tal como na Europa, a reacção pavloviana é falar no “fardo” dos impostos e nos “cortes” – e logo o novo gorvernador entrou determinado a “quebrar a espinha” aos sindicatos, primeiro, e aos funcionários públicos, depois. Professores, enfermeiras, bombeiros, polícias e todos os outros. A “proposta” não é negociável: além dos cortes nos salários, que podem atingir os 10% e foram logo aceites, o governador exige que os sindicatos abdiquem de todos os seus direitos futuros de negociação colectiva, deixando todos – mesmo os não sindicalizados – ainda mais à mercê dos interesses do “corporate capital”. Nem a revelação da influência dos magnatas Koch, os dois maquiavélicos irmãos que financiaram a campanha do governador, e nem mesmo a confissão deste de que pensou em “contratar uns provocadores para criarem distúrbios nas manifestações” evitaram que, na última semana, 70000 pessoas estejam nas ruas, alguns dormindo à porta do parlamento de Madison – no meio da neve.
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