O assunto parecia tão sério que eu decidi ir ler o blogue. Calcei umas luvas, preparei álcool etílico para desinfectar o computador no final, e comecei a ler a entrada onde se escreve “Portugueses! Peguem nas pás e vão-se embora”. No fim do texto, a minha preocupação tinha sido transformada num misto de pena e de incontrolável vontade de rir. Como panfleto racista, os textos do tal Peters são tão ridículos quanto abjectos, mas como obras de comédia nonsense são verdadeiramente magnifícos.
Mais do que anti-estrangeiros, Peters parece sofrer de uma certa obsessão anti-betão. Pelo que é possível entender do arrazoado, o desejo do homem é que toda a gente volte a viver como vivia “antes”. É difícil, no entanto, descortinar o exacto ponto na História do mundo onde tudo era tão perfeito que o tempo deveria ter sido congelado para ficar mais do agrado do autor; é possível que se refira a um tempo antes de 1984, ano em que a língua luxemburguesa (falada por 0,002% do número mundial de lusofalantes) passou a ser oficial no país, deixando de ser considerada um dialecto franco do Mosela. Também é possível que a data preferida fosse 1940, quando um regime ao qual o sr. Peters vai buscar uma certa inspiração invadiu e conquistou o Luxemburgo em uma manhã, obrigando a grã-duquesa Charlotte (ela própria filha de uma portuguesa) e o governo de Pierre Dupong a fugirem para o exílio, sendo acolhidos em Portugal, primeiro, o Canadá, mais tarde. Outra possibilidade é que Peters prefira a época por volta de 1890, em que estas pequenas terras eram uma possessão privada do rei dos Países Baixos, Guilherme III, e um quinto da população luxemburguesa teve de emigrar para os Estados Unidos fugindo às fracas colheitas e à fome.

É óbvio que qualidade da escrita e as ideias balbuciadas situam a época ideal do sr. Peters ainda mais atrás, por volta da Idade da Pedra. Mas nas fotos gentilmente disponibilizadas no blogue (Peters a posar com uma cascata; Peters rodeado por cavalos; e Peters rodeado por burros, na busca incessante de uma discussão intelectualmente estimulante) o homem não veste peles de leopardo, pelo que não me inclino por esta última hipótese. Mas entende-se que Peters, caçador entusiasta (não de leopardos; de animais menos rápidos e menos perigosos), proteste a meio da sua diatribe que os “animais estão a ficar sem espaço” – sem espaço para correr e fugir das suas balas, quer ele dizer.
Enfim, cada aldeia deve ter o seu bobo. Em Peters, o Luxemburgo encontrou o seu.
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