Autor das “Aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn”,
Mark Twain foi um dos maiores escritores em língua inglesa. Talvez mais do que
isso, era senhor de uma ironia mordaz e um talento para a comédia quando a
comédia não era, como hoje, uma possível opção de carreira. Essa personalidade
inspirou o comentário que fez ao ler o seu próprio obituário num jornal que,
por engano, tinha anunciado o seu falecimento: “as notícias da minha morte são
algo exageradas”.

Chegamos a este ponto impensável por via da insanidade: a
insanidade política e económica das elites conservadoras que há demasiado tempo
dominam, sem oposição, a Europa, impondo uma agenda ideologicamente extremista
que não admite alternativa e muito menos dissidência. Merkel preferiria
caminhar sobre carvões em brasa – ou então arriscar a destruição do projecto
europeu – a permitir que os rebeldes do Syriza fossem bem-sucedidos e
proliferassem até Portugal e Espanha. Sobre a parte política estamos
conversados, mas o lado económico é mais grave.
Em cinco anos de receitas austeritárias completamente
erradas – algo que é, e importa sublinhá-lo outra vez, admitido relutantemente
por alguns dos próprios “médicos” que as administraram – a Grécia realizou um
esforço brutal de ajustamento económico. Entre 2009 e 2014, o saldo orçamental
grego melhorou em 12% do PIB (e o país tem hoje um excedente orçamental
significativo). O mesmo aconteceu com a sua balança de transacções correntes.
Para obter estes resultados exigidos, metido numa camisa de forças económica, o
país perdeu 25% da sua riqueza; o desemprego, a pobreza, a miséria e mesmo a
fome dispararam. 3 milhões de gregos não têm hoje acesso a cuidados de saúde
básicos. Agora os bancos estão fechados e falidos, e há um controlo de capitais
em vigor (cada pessoa só pode levantar 60 euros por dia).
Não foi o actual governo grego quem criou este estado de
coisas medonho (que aliás estilhaça muitos dos ideais românticos inspirados
pela UE). Tsipras e Varoufakis tiveram o mérito de compreender que o país
estava preso numa armadilha de que nunca se iria libertar, sendo ajudado apenas
o estritamente necessário para não falir mas sempre impedido de crescer e tornar-se
senhor do próprio destino. Daí as suas atitudes insolentes, próprias de quem
pensa não ter muito a perder.
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