Na Grécia, há um dia do Não. Cada 28 de Outubro é
feriado, e todos os locais públicos são engalanados com bandeiras azuis e
brancas. Os gregos relembram o dia de 1941 em que o primeiro-ministro grego foi
acordado de madrugada e confrontado com um ultimato de Mussolini, que exigia o
controlo imediato das áreas estratégicas da Grécia ou invadiria o país. A
resposta em bom francês de Metaxas – “alors, c’est la guerre!” – ficou na
História como, simplesmente, “Não!”. O exército grego acabou por rechaçar os
soldados italianos, mas em seguida vieram as divisões nazis, que içaram a
bandeira com a cruz suástica na Acrópole poucos meses depois. (Esta bandeira viria
a ser retirada por resistentes gregos, um dos quais, Manolos Glezos, é hoje aos
92 anos deputado europeu eleito pelo Syriza).
A resposta de Metaxas era o Não mais célebre de sempre…
até domingo passado, quando um povo – exangue, submetido a um tratamento de
choque neoliberal ao longo de meia década, chantageado por decisões
discriminatórias do Banco Central Europeu, ameaçado por uma fila interminável
de políticos europeus a quem a fina camada de verniz democrático estala com
demasiada facilidade, esfomeado pelos bens que começam a escassear – não se
intimidou e gritou de forma avassaladora “Não”. Não a mais curas suicidas. Não
a mais políticas austeritárias que já foram testadas e comprovadas como
falhanços perigosos ao longo da História.
A revista “Der Spiegel”, num excelente artigo publicado
um dia antes do referendo, chama ao ponto a que chegamos “as cinzas de Angela”.
O estilo de liderança da chanceler – adiar, esconder, permitir que tudo
permaneça vago, nunca tomar decisões impopulares para os seus eleitores –
talvez funcione na política doméstica alemã, mas é um desastre quando as
responsabilidades são maiores. E sob Merkel, a Alemanha procura efectivamente
reinar sobre a Europa – mas não sabe o que fazer com esse poder. “A crise grega
requeria liderança e um plano, mas Merkel foi incapaz de fornecer nenhum dos
dois”, escreve a publicação alemã.

É simbólico que muito do que estava em jogo tenha sido
entendido pela juventude grega, percentualmente a faixa da população que mais
votou “Não” (sobretudo os mais jovens, alguns a exercer o seu primeiro voto de
sempre). A taxa de desemprego entre os jovens já ultrapassa os 55%; a
esmagadora maioria não pode, talvez nunca venha a poder, sair de casa dos pais
e começar a caminhar na vida. É toda uma geração que está a ser desperdiçada
pela Europa, e sobretudo na Grécia, em nome do pagamento de juros altíssimos a
bancos alemães e franceses…
O voto “Não” foi na verdade um voto “Sim” – sim a outra
Europa, a Europa da coesão, da solidariedade, do crescimento, da esperança,
enfim, da racionalidade económica. Sim à Razão, sim a uma conferência da dívida
entre devedores (Portugal incluído) e credores. Sim a um Acordo Justo.
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