Nem tudo o que reluz é ouro. Por outro lado, nem todos os
caixotes abandonados contêm apenas tralha sem valor – uma verdade que uma
californiana anónima, mais do que ninguém, deveria conhecer. Esta
mulher-mistério perdeu o seu marido e, passado algum tempo, decidiu libertar-se
das suas possessões terrenas. Ofereceu as roupas, doou os livros, vendeu o carro.
Por fim sobraram alguns caixotes com cabos e circuitos electrónicos na garagem.
Provavelmente resmungando contra as manias de acumulação de lixo do falecido
esposo, a nossa heroína dirigiu-se ao centro de reciclagem mais próximo e
entregou-lhes todos aqueles resíduos, alguns deles com quase 40 anos.
Antes de destruir tudo e eventualmente aproveitar algumas
pecinhas, os funcionários do centro de reciclagem abriram um caixote... e
descobriram que aquele emaranhado constituia um dos apenas 63 exemplares sobreviventes
do Apple Computer 1, ou seja, o primeiro produto da que é hoje a empresa mais
valiosa do mundo – a capitalização bolsista da Apple já ultrapassou o PIB da
Suíça ou da Arábia Saudita, e também os valores somados da Google e da
Microsoft...
O primeiro Apple, produto exclusivo da mente brilhante de
Steve Wozniak, tinha sido criado sobretudo para impressionar a pequena
comunidade de “engenhocas” da cidade onde Wozniak e o seu amigo Steve Jobs
viviam; basicamente era apenas uma placa-mãe de circuitos (não incluia teclado,
caixa, alimentação nem ecrã) com 4 Kb de memória RAM. Foi Jobs quem teve a
ideia de vender o aparelho a partir do próprio local onde ele era fabricado
pelos dois: a garagem de casa dos pais. Custava na altura o equivalente a 2500
euros actuais; como peça de colecção, o seu valor é agora muitas vezes
superior, e de facto o centro de reciclagem imediatamente vendeu o exemplar
abandonado pela bonita soma de 200 mil dólares, dos quais metade pertencem à
nossa viúva misteriosa. Pequeno problema, ninguém sabe quem ela é ao certo, e
apesar dos ecos desta história terem corrido mundo nos últimos tempos, a
incógnita sobre a sua identidade permanece.
Histórias de objectos desaproveitados, ou comprados por
tostões quando na verdade valem milhões, são mais frequentes do que parecem. Já
foram redescobertos móveis, jóias, quadros valiosos; um motorista de camião
aposentado pagou 4 euros por um quadro “tão feio” que serviria para uma
brincadeira de amigos, e acabou por levar para casa um enorme Jackson Pollock
(quando informado do facto, usou um palavrão para perguntar “quem é esse?”).
Mas talvez o caso mais impressionante dos últimos anos tenha acontecido quando
uma senhora viu, por entre todos os bricabraques de um mercado de rua, uma
moldura de que gostou e pela qual pagou 6 euros; no momento em que começou a
separá-la do quadro (uma paisagem de flores e água), a mãe parou-a e telefonou
a um especialista. Tratava-se de uma obra do mestre Renoir, valendo mais de 100
000 euros... num golpe de teatro posterior, descobriu-se que o quadro tinha
sido roubado a um museu em 1951, pelo que a sua redescobridora não obteve
qualquer compensação pelo feito.
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