quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Skyfall


“Skyfall” é, naturalmente, o título do último volume da franchise 007 – um filme entretido que vale em grande parte pela sua extraordinária sequência inicial e música de Adele com o mesmo nome, nome esse que poderia traduzir-se como “uma queda do céu”, no sentido figurado.

É nesse céu que se movem as companhias aéreas que, por entre discussões sobre altos salários e preços dos combustíveis, fazem recair todos os seus ónus sobre os viajantes – clientes e razão de ser da sua existência. Neste capítulo todos aqueles que costumam voar entre o Luxemburgo e Portugal são versados, já que esta rota é tradicionalmente umas das mais lucrativas para as duopolísticas companhias que nela operam: TAP e Luxair. O suspeitado conluio entre ambas, sob a observação atenta da mãe Lufthansa, permite-lhes combinar tarifas de força tão flagrante quanto impune; quantas vezes determinado bilhete para determinado dia não custa exactamente o mesmo, ou difere em um euro, numa e noutra (falsa) opção. Os horários de voos também indiciam uma cuidadosa divisão do mercado feita nos bastidores – uma estrutura que, sendo de cartel mais do que de duopólio, não é permitida às leis da concorrência. Aliás não por acaso a Comissão Europeia ameaçou no ano passado abrir uma investigação à mesma TAP e à Brussels Airlines (que pertencem à mesma aliança aérea) por práticas semelhantes na rota de Bruxelas, mas a investigação nunca saiu do chão.

Combinar preços não é o único truque constante do livro de uma companhia com uma posição dominante no mercado: o levantamento de barreiras à entrada de competidores é outro, e assim o aeroporto de Findel, com imensa capacidade instalada não utilizada, nunca acolheu um concorrente que possa minimamente desafiar os “direitos adquiridos” dos poderes ali instalados. Quem sofre mais uma vez é quem precisa dos aviões para viajar: em grande medida, somos consumidores especiais pois, devido às tão fortes ligações familiares, culturais, económicas, sentimentais ou muitas outras, não temos escolha senão pagar o que for preciso e voar desta terra de trabalho para Portugal. Sujeitamo-nos assim a toda a espécie de manipulações e desrespeitos, como um serviço subpadrão, preços obscenos (um bilhete simples para ir passar o Natal a Portugal custa neste momento 750 euros, bastante mais que um bilhete para Nova York para as mesmas datas) ou horários perfeitamente absurdos – na sua nova versão, por exemplo, a TAP pede-nos para estar no aeroporto de Pedras Rubras às 2 da manhã de domingo, de forma a podermos aterrar no Luxemburgo às 6 da madrugada!

Que opções temos nós, viajantes, para abalar este abusivo status quo? Não muitas. Por terra, a viagem é longa e também cara; no ar, a Ryanair também trata a rota Hahn-Porto como a sua “vaca leiteira” – os aviões, pouco frequentes para o potencial do mercado, estão sistematicamente repletos, mesmo que nunca sejam objecto das promoções de que usufruem os outros destinos (e mesmo que o presidente da companhia insulte frequentemente os seus próprios clientes, como fez no mês passado ou apelidar de “estúpidos” todos aqueles que se esquecem de imprimir o seu bilhete num papel). Acresce que esta é uma opção pouco prática, que o aeroporto de Hahn sofre de dificuldades financeiras, que as previstas alternativas em Bitburgo ou Metz não descolam, e que Charleroi também tem os voos sempre cheios. Existe um grupo no facebook que pressiona para que a Easyjet voe daqui para Lisboa; veremos o que acontece deste lado, mas por enquanto, não há outro remédio senão engolir em seco e economizar para as viagens. Ao contrário de um James Bond, o dinheiro não cai do céu.

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