O livro chama-se “Economia: manual do
utilizador” e foi escrito por um respeitado economista sul-coreano, Ha-jun
Chang. Este professor de Cambridge é uma autoridade em Economia do
Desenvolvimento e ganhou no ano passado a honra de ser considerado um dos grandes
pensadores da actualidade. E Chang tem uma das características do génio: a
capacidade de simplificar. Ali não há paciência para a arrogância de quem
procura criar cortinas de fumo sobre a informação. A abertura do livro é desde
logo clara ao afirmar que os economistas que consideram a economia demasiado
complicada para as pessoas comuns se enganaram na profissão, e que não é
preciso um curso superior para a compreender. A desmistificação é refrescante
(e bem necessária): de facto, quase diria que quanto mais importantes os
assuntos económicos se vão tornando na nossa vida, menos eles são conhecidos e
debatidos. Quando foi a última discussão que o leitor teve sobre a
sobrevivência do euro, por exemplo?
Mas a desconstrução do grande monólito não fica por
aqui, este pequeno livro azul escancara-nos as portas. Logo a seguir,
lembra-nos que a economia não é uma ciência exacta, e que não há apenas uma
resposta para cada problema. Como tal, é muitas vezes usada como justificação
para o que os líderes políticos querem fazer – não esqueçamos que a este nível
os números dizem o que quisermos que eles digam. Este ponto é particularmente
sensível no nosso tempo, em que a narrativa “isto é péssimo mas não há
alternativa” (primeiro enunciada por Thatcher nos anos 80) se tornou sofisma
incontestável.
O mais importante deste manual de utilização
fica para o fim. O livro, que é escrito por um economista, avisa-nos para nunca
confiar em economistas. Quase nenhum foi capaz de prever a brutal crise de 2008
e, pior que isso, nenhum está a ser capaz de nos retirar do poço em que nos metemos,
seis anos volvidos. Esta constatação tem um enorme corolário: a economia é
demasiado importante para ser deixada apenas nas mãos dos peritos. Temos, cada
um de nós, de a reclamar de volta: ninguém tem o monopólio da verdade, muito
menos quando o tema nos afecta a cada momento da vida. Não há desculpas para a
preguiça nem para enterrar a cabeça na areia, é mesmo a nossa obrigação como
cidadãos de democracias sermos economicamente activos. Exigindo reformas,
organizadamente, é possível melhorarmos, mas nada acontecerá caído do céu.
Ler este livro pode ser o início de uma viagem
enriquecedora e irá sempre, como mínimo, expandir-nos os horizontes. Não há
mais que lhe possamos pedir. Obrigado, sr. Chang.
Sem comentários:
Enviar um comentário