terça-feira, 8 de julho de 2014

Perigo escondido às pintinhas


Qual foi a pessoa na História cujo trabalho individual salvou mais vidas humanas? Talvez o maior candidato seja um homem chamado Edward Jenner. Jenner era um médico de família de uma pequena cidade inglesa pelo final do século XVIII e é creditado com a criação da primeira “vacina” (a palavra vem do latim “vacca”, animal a que Jenner foi buscar o vírus enfraquecido da varíola). Inoculando um menino de 8 anos, Jenner provou que ele se tinha assim tornado imune ao vírus mortal. A varíola foi considerada em 1979 como doença erradicada, depois de ter matado 400 milhões de humanos só durante o século XX. Outros grandes cientistas como Pasteur e Hilleman partiram deste trabalho (e dos ensinamentos da Índia e China medievais) ajudando a criar um planeta com muito menos doenças.

 
Os avanços científicos na medicina são um enorme reconforto para quem acredita no progresso, mas com a Humanidade as coisas nunca se passam de forma tão simples. Nos últimos anos, nas nossas sociedades ocidentais e sobretudo nos EUA, tem ganho força um movimento anti-vacinas que se preocupa em retratar a imunização como algo de perigoso e contranatura; as razões para tal convicção variam, podendo ser de índole ultrarreligiosa, ou pela desconfiança crescente em relação aos governos e às grandes multinacionais farmacêuticas, ou simplesmente pela vontade de ser “contra-sistema”. O facto incontornável é que esta crença de alguns pais, sempre baseada na ignorância e na crendice e sem qualquer sustentação factual, não põe apenas os próprios filhos em risco – mas também todos os outros, sobretudo quem não estiver imunizado, como bebés muito pequenos, ou crianças nas quais as vacinas não “pegam”: a única forma de protegê-los é criar um ambiente em que estes não estejam em contacto com vírus.

Um artigo alarmista e falsamente científico publicado em 1998 num jornal médico deu o tiro de partida para uma paranoia colectiva. O artigo, já completamente desacreditado e que custou ao seu autor a licença para exercer como médico, relacionava uma suposta relação entre a vacina tríplice (sarampo, rubéola e papeira) e o autismo; devido à sua publicação, as taxas de vacinação desceram e o sarampo, doença quase desaparecida, regressa agora em força. Portugal apenas registou um caso, mas por exemplo nos Países Baixos houve no ano passado uma epidemia com 2118 casos. Um mapa online publicado este ano mostra um mundo coberto de doenças evitáveis, algumas mesmo incluindo mortes; incrivelmente, algumas das zonas mais afectadas são precisamente a Europa (sobretudo sarampo), o Japão (a rubéola) e os Estados Unidos (onde a tosse convulsa continua a crescer e começa a matar crianças, sobretudo nas zonas mais caras da Califórnia!).

Todos os medicamentos, e uma vacina não é excepção, incluem alguns riscos. Mas estes são mínimos, acontecem em casos raríssimos, e são completamente esmagados pelos benefícios que elas transmitem. Caro leitor, não se deixe enganar pela propaganda enganadora: vacine os seus filhos, pode bem ser uma questão de vida ou morte.

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