Qual foi a pessoa na História cujo trabalho
individual salvou mais vidas humanas? Talvez o maior candidato seja um homem
chamado Edward Jenner. Jenner era um médico de família de uma pequena cidade
inglesa pelo final do século XVIII e é creditado com a criação da primeira “vacina”
(a palavra vem do latim “vacca”, animal a que Jenner foi buscar o vírus
enfraquecido da varíola). Inoculando um menino de 8 anos, Jenner provou que ele
se tinha assim tornado imune ao vírus mortal. A varíola foi considerada em 1979
como doença erradicada, depois de ter matado 400 milhões de humanos só durante
o século XX. Outros grandes cientistas como Pasteur e Hilleman partiram deste
trabalho (e dos ensinamentos da Índia e China medievais) ajudando a criar um
planeta com muito menos doenças.
Os avanços científicos na medicina são um enorme
reconforto para quem acredita no progresso, mas com a Humanidade as coisas
nunca se passam de forma tão simples. Nos últimos anos, nas nossas sociedades ocidentais
e sobretudo nos EUA, tem ganho força um movimento anti-vacinas que se preocupa
em retratar a imunização como algo de perigoso e contranatura; as razões para
tal convicção variam, podendo ser de índole ultrarreligiosa, ou pela
desconfiança crescente em relação aos governos e às grandes multinacionais farmacêuticas,
ou simplesmente pela vontade de ser “contra-sistema”. O facto incontornável é
que esta crença de alguns pais, sempre baseada na ignorância e na crendice e
sem qualquer sustentação factual, não põe apenas os próprios filhos em risco – mas
também todos os outros, sobretudo quem não estiver imunizado, como bebés muito
pequenos, ou crianças nas quais as vacinas não “pegam”: a única forma de
protegê-los é criar um ambiente em que estes não estejam em contacto com vírus.
Um artigo alarmista e falsamente científico publicado
em 1998 num jornal médico deu o tiro de partida para uma paranoia colectiva. O
artigo, já completamente desacreditado e que custou ao seu autor a licença para
exercer como médico, relacionava uma suposta relação entre a vacina tríplice
(sarampo, rubéola e papeira) e o autismo; devido à sua publicação, as taxas de
vacinação desceram e o sarampo, doença quase desaparecida, regressa agora em
força. Portugal apenas registou um caso, mas por exemplo nos Países Baixos
houve no ano passado uma epidemia com 2118 casos. Um mapa online publicado este
ano mostra um mundo coberto de doenças evitáveis, algumas mesmo incluindo
mortes; incrivelmente, algumas das zonas mais afectadas são precisamente a
Europa (sobretudo sarampo), o Japão (a rubéola) e os Estados Unidos (onde a
tosse convulsa continua a crescer e começa a matar crianças, sobretudo nas
zonas mais caras da Califórnia!).
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