O Luxemburgo saltou para as primeiras páginas do mundo
graças às denominadas “LuxLeaks”. A honra é dúbia, mas mais tarde ou mais cedo
era previsível que tal acontecesse numa conjuntura de falta de liquidez e
contracção do crédito como aquela em que vivemos há vários anos. Os Estados
europeus não têm dinheiro nos seus bolsos, logo é apenas natural que se
coloquem questões sobre a prosperidade material de um dos seus mais pequenos
congéneres.

Mas a revelação, publicada simultaneamente por 40 media
globais, de 28 000 páginas de acordos secretos entre a administração
fiscal luxemburguesa e 343 grandes empresas (apesar de ser apenas uma parte do
icebergue – estima-se que pelo menos mais mil empresas também implicadas ainda
não apareçam nesta lista) sublinha o óbvio: não estamos a falar de um caso de
concorrência fiscal legítima, mas sim de deturpações desleais. Nas palavras de
uma deputada europeia liberal, “não é o mercado, é a selva”. Uma selva muito
pouco transparente.
O Luxemburgo é apenas um elo do problema. Só na Europa,
os Países Baixos, o Reino Unido, a Suíça, Malta, todos têm regras que mimetizam
as do Grão-Ducado; a Irlanda faz dumping fiscal com uma baixíssima taxa de IRC
(de 12,5%). O combate por um sistema mais justo está por começar, o que levanta
uma questão incómoda: porquê? Talvez não interesse aos nossos líderes
políticos. Mas algo, ainda que tímido, terá de ser feito – e é mais do que uma
ironia que essa tarefa recaia agora nas mãos de Juncker, sendo ele um dos
grandes arquitectos do sistema luxemburguês.
É claro que a harmonização fiscal crescente, o
reporting entre Estados de lucros internacionais, a imposição de uma base comum
para o imposto e uma luta acrescida contra a fraude, bom como medidas
repressivas como considerar a optimização fiscal como subvenções disfarçadas às
empresas, equilibrariam o terreno de jogo e fariam que as grandes empresas
começassem finalmente a contribuir de forma justa para as comunidades a quem (e
isso não falha) vendem milhões de tablets ou móveis aos pedaços.
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