
Há muitas diferenças. Maio de 1968 foi um paradoxo: a economia estava óptima - a Europa Ocidental vivia o apogeu dos Trinta Gloriosos, três décadas de prosperidade crescente e contínua que se seguiram ao final da guerra (e que Portugal tristemente falhou devido à inépcia do regime salazarista). A contestação fez-se, sim, contra todas as formas de autoridade ("É proibido proibir", diziam os graffiti), contra um sistema de consumismo desenfreado, contra o imobilismo e favoritismo das gerações mais velhas ("Sê jovem e CALA-TE", glosava um cartaz com o velho De Gaulle a amordaçar um adolescente).
O 15-M, como a "Geração à Rasca" de 12 de Março em Portugal, ou como tantos outros que despontarão numa contestação social generalizada, são antes que tudo sintomas de uma doença económica. Ali cabem os não empregados, e os mal empregados, e os bem empregados mas mal viventes, os estudiosos e os contestatários. Insistem não ter filiação partidária e recomendam a abstenção ou o voto em branco. Todos são subprodutos dos dois milhões de empregos espanhóis destruídos desde o início da crise - e do brutal aumento de impostos necessário para a pagar - mas também querem o fim da corrupção na política, o corte das despesas militares, a abolição do nuclear, a revogação das leis anti-pirataria digital. A Porta do Sol abriu-se qual caixa de Pandora, e depois de abertas nunca mais é possível voltar a lá encerrar os novos ventos que sopram. Quem melhor souber interpretá-los politicamente vai dominar os próximos anos na Europa.
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