terça-feira, 7 de junho de 2011

Bom para as couves, mau para o Mundial

eBay. Mais uma história de sucesso americana que segue um guião bastante conhecido - o aproveitar de condições e ideias já existentes, conferindo-lhes um formato gigante e estruturado e conquistando o mundo a partir de uma garagem. Neste caso a garagem pertencia a um francês-iraniano a viver na Califórnia, que em 1995 pôs à venda no seu sítio pessoal uma caneta laser. O pormenor da caneta não funcionar e até estar partida não deteve o comprador.

22 milhões de milhões de dólares, uma candidatura política (falhada) da sua presidente e 16 anos mais tarde, o maior sítio de leilões do planeta já tem algumas histórias engraçadas para contar relacionadas com algumas das vendas aí aparecidas - e algumas mesmo concluídas -, tais como: dois aviões, várias ilhas incluindo a Islândia e a Nova Zelândia, uma aldeiazinha americana, o Volkswagen do Papa, a língua alemã, um emprego ou inúmeros objectos sem interesse. E ainda muitas couves-de-bruxelas, desde que um britânico se lembrou de vender uma destas esferas vegetais que lhe tinha sobrado da ceia de Natal - a couve rendeu mais de 2000 euros, prontamente doados à luta contra o cancro, e fez nascer a moda de leiloar couves-de-bruxelas para fins caritativos.

Sugestionada pela pujança da leiloeira virtual e ainda ferida no orgulho pela candidatura ao Mundial de futebol 2018 perdida para a Rússia, uma respeitada publicação financeira britânica - também conhecida pelas suas posições neoliberais e por saber muito pouco de futebol - acaba de defender nas suas páginas que o direito de organizar o Campeonato do Mundo, a cada quatro anos, não deveria ser concedido a um país pelos 22 membros provavelmente corruptos da FIFA mas sim "leiloado de forma transparente através do eBay". O país que fizesse a oferta mais alta levaria para casa a obrigação de construir novos e desnecessários estádios, bem como a glória efémera de ser o centro do globo por um mês.

É previsível o efeito mais imediato deste hipotético (e algo pateta) sistema: todos os Mundiais passariam a ser organizados não por sociedades apaixonadas pelo belo jogo, como são as europeias e sul-americanas, mas sim por países com registo democrático dúbio e muito dinheiro petrolífero fresco para gastar. Ao Mundial da China seguir-se-ia o da Venezuela, depois o da Líbia, de Angola e do Brunei. Curiosamente, a Rússia e o Qatar seriam também dois dos candidatos mais óbvios - exactamente as sedes dos dois Mundiais atribuídos recentemente pela FIFA, no que só pode tratar-se de tremenda coincidência.

A "coincidência" salvou Portugal, também candidato ao Mundial de 2018 a meias com a Espanha, da situação embaraçosa de estar agora a justificar um caprichoso investimento quando o país está a cortar salários para fazer face a uma enorme dívida pública. Mas embaraços à parte, a ideia de organizar o Mundial era boa - os estádios novos e desaproveitados já estão construídos, a Espanha pagaria a maior parte da factura, e seria uma boa oportunidade para levantar um pouco do espírito de um país actualmente tão deprimido. A final 100% nortenha da Liga Europa, a disputar hoje à noite, é motivo de orgulho mas não dá para tudo.

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