No início de 2011, a Hungria iniciou o seu período de seis meses sob os holofotes (ao presidir ao Conselho da UE) de uma forma estranhíssima, procurando justificar uma então recente lei da imprensa que (tendo como objectivo mal disfarçado silenciar vozes críticas para com o governo em funções) conseguiu a proeza de ultrajar os parceiros europeus, sempre reticentes a envolver-se em controvérsias diplomáticas. A lei, entretanto, fez as suas vítimas: uma rádio liberal perdeu a sua licença para uma outra que promete "menos palavras e mais música húngara", e vários jornais mudaram subitamente de rumo editorial. O governo, entretanto, foi comprando outras guerras e envolveu-se em disputas de desagradável cariz étnico com a Eslováquia e outros países vizinhos, reacendendo velhas questões territoriais herdadas dos terríveis conflitos do século XX europeu.
Um a um, o sistema de pesos e contrapesos que caracteriza uma democracia europeia vai caindo na Hungria. O governo preenche todos os lugares que pode com fiéis detentores de um cartãozinho do partido: assim aconteceu no poder judiciário, no banco central, no tribunal de contas ou na alta autoridade para os media, na maioria das vezes com mandatos de 9 a 12 anos

Entretanto, a economia não pára de se deteriorar - a moeda húngara nunca esteve tão baixa, a dívida externa (gigantesca) acaba de valer aos títulos do país a notação de "lixo", o desemprego já está nos 11%. E depois de revoltar "a rua", a deriva autoritária da Hungria começa também a irritar as altas esferas. A tentativa de controlar politicamente o banco central, contrária aos tratados europeus, foi a gota de água, atraindo críticas públicas da Comissão Europeia, do FMI e dos Estados Unidos. Não é cedo para tudo isto; a Hungria está no coração da Europa, e a Europa é fundada com base na Democracia (aqui inventada). Abandonando os nossos princípios basilares, aproximamo-nos rapidamente do abismo.
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