sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O fabuloso destino de William Gates III

Que semana esta!, dirá Bill Gates, depois de ter encabeçado as notícias por diferentes razões – todas elas boas - em poucos dias. Ou talvez se tenha tratado de mais uma vulgar semana na vida de um dos homens mais ricos do mundo, não sei. Mas dar um passeio pela Europa e encabeçar os títulos da imprensa séria por três dias consecutivos não é para qualquer um.

É fácil elogiar o quão bem-sucedido Gates foi na sua vida profissional: a companhia que fundou, a Microsoft, tornou-se uma das maiores do mundo, a maior no seu ramo, e influenciou de uma forma ou outra a vida de toda a gente neste planeta. Essa é a parte objectiva; subjectivamente, diria que o seu percurso profissional não é nada de especial - este homem teve a felicidade de estar no lugar certo no momento certo, mas nunca fomentou a inovação radical ou inspirou o tipo de culto quase religioso que por exemplo os produtos do seu grande rival, Steve Jobs, fazem (a razão passará muito pela filosofia de “good enough”, suficiente, que imprimia aos seus produtos). Mas a partir do momento em que Bill Gates pediu a reforma executiva, este “geek” que assinava produtos sensaborões tornou-se num filantropo admirável.

Na quarta feira o detentor de uma fortuna avaliada em 59 mil milhões de dólares juntou-se a um coro de vozes, aqui já referidos neste espaço, que exigem que os ricos aumentem a sua contribuição para a sociedade em que estão inseridos e paguem mais impostos. “Neste momento, penso que pessoas como eu não pagam tanto quanto deviam”, começou o milionário, que no dia seguinte mostrou que está em grande momento de forma: depois daquela entrevista à BBC, voou até ao Fórum Económico Mundial na Suíça e anunciou a sua doação de 570 milhões de euros para financiar o descobrimento de uma cura para a sida, acompanhando a oferta com palavras a condizer: “estes são tempos de dificuldades económicas, mas isso não é desculpa para cortar na ajuda aos mais necessitados”.

O ponto alto do seu périplo europeu já tinha acontecido na terça feira. Bill Gates apareceu no hemiciclo do Parlamento Europeu para nos convencer a não desistirmos de ajudarmos os outros. A Europa, do alto dos seus 54 mil milhões de euros, é a maior contribuinte mundial para a ajuda ao desenvolvimento – e o Luxemburgo o maior de todos proporcionalmente pela percentagem do PIB – mas está agora mais preocupada com dívidas e declínio e perda de importância, muitas vezes em favor de precisamente os mesmos países que está a auxiliar. O americano construiu bem a sua defesa: explicou-nos como graças a este dinheiro foi possível, em 20 anos, erradicar a varíola em todo o mundo, e quase fazer o mesmo à poliomielite; e desmistificou as duas ideias pré-concebidas mais persistentes sobre a ajuda ao terceiro mundo, ou seja: que esta não serve para nada porque só torna os países recebedores mais preguiçosos, e que melhorar as condições sanitárias em países pobres vai provocar uma explosão demográfica sem precedentes – na verdade, os factos provam exactamente o contrário em ambas. Foi isso que um homem que um dia se cansou de vender software e decidiu provocar um impacto veio fazer à Europa: motivar-nos para que nos mantenhamos envolvidos, dando o exemplo. Só por isso, prometo não resmungar com o Word por pelo menos um mês inteirinho.

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