terça-feira, 23 de outubro de 2012

O ataque das super-máquinas fotográficas

Há mais de dois anos escrevi neste mesmo espaço um texto que anunciava em título algo como “A maior feira de arte do mundo está a 200 km do Luxemburgo” (referia-me à TEFAL, que acontece todos os anos em Maastricht pela primavera). Mas fazendo os mesmos 200 km na direcção de Colónia é possível ver outra feira recordista – a Photokina, que só acontece de dois em dois anos, é o maior certame de imagem de todo o planeta. E para sua conveniência, caro leitor, acontece precisamente esta semana (até domingo).

Os números da Photokina são estonteantes, e ajudam a explicar o porquê do seu sucesso – no que é aliás uma história agradável para a Europa: de facto, é relevante que este evento não se realize nem no Japão, de onde são oriundas as maiores empresas de imagem, nem nos EUA, com o maior mercado, nem sequer na China, onde são fabricadas cada vez mais máquinas e objectivas, mas sim no coração do continente que é a nossa Casa Comum. Só na edição passada, em 2010, estiveram presentes nada menos de 1251 empresas expositoras, cujos produtos foram vistos por 181464 pares de olhos (e mãos, que muitas máquinas estão lá precisamente para serem manuseadas), pessoas essas vindas de 165 países diferentes. Tudo relatado por nada menos de 6307 jornalistas acreditados.


Por gargantuanos que sejam, os números apenas contam uma parte da história, e este ano eles devem subir: a fotografia sofre actualmente uma pequena revolução silenciosa, pouco influenciada pelos ventos adversos da economia global. É que finalmente, o mercado global da foto, dominado pelo duopólio Canikon (Canon + Nikon) desde sempre muito conservador na sua gestão dos produtos lançados, está agora a sentir a pressão de concorrentes que vendem menos mas são mais agressivos, tais como a Sony, Fuji ou mesmo Apple e Samsung. Estas últimas, a cada mês, vão engolindo fatias cada vez maiores da parte mais baixa do mercado da imagem – o das máquinas fotográficas compactas. Faz cada vez menos sentido gastar 250 euros em mais um gadget que é preciso transportar, além de pensar em carregar as baterias e comprar cartões de memória, se no outro bolso do casaco já lá está um iPhone ou Galaxy que têm (por enquanto...) quase as mesmas características técnicas, já incorporam de origem capacidades para partilhar facilmente nas redes sociais a foto que acabámos de tirar, e além disso são insuportavelmente mais cool...

Conscientes da inevitabilidade do desaparecimento deste segmento – que é ainda muito lucrativa para as marcas fabricantes - estas decidiram apostar em força na parte alta do mercado, e em 2012 assiste-se a uma situação curiosa em que chovem máquinas fotográficas full frame, até aqui reduto dos profissionais, dado que o seu preço facilmente ultrapassava os 7000 euros. Nestas máquinas, os sensores digitais são do mesmo tamanho de um filme 35 mm (ou seja, um rectângulo de 3,6 por 2,4 cm); estes sensores são uma espécie de cérebro da máquina, a sua peça mais importante. A passagem do filme para o digital fez-se ao substituir o filme de nitrato de prata que regista os diferentes tipos de luz por um pequeno chip digital que reage à exposição à luz, o tal sensor que nos primeiros aparelhos digitais eram pastilhas pequenas para reduzir custos, mas têm vindo a crescer inexoravelmente. Mais do que outra coisa, a Photokina 2012 vai ser a luta destas aparelhos de grande potência que abrem um enorme manancial de possibilidades para imagens cada vez melhores, mais nítidas, mais luminosas e com menos interferências. A técnica continua a proporcionar-nos verdadeiros avanços, pelo que há que aproveitar essa bonança – sobretudo durante estes tempos de retrocesso social e económico.

O bilhete para a feira Photokina custa 45 euros.

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