A União Europeia, esse projecto aparentemente utópico – e quão belas são as maiores utopias – de que todos nós, 500 milhões de europeus, somos parte integrante e continuamos a construir (de forma díspar e incoerente, por vezes...), merece absolutamente ser recompensada com o prémio Nobel da Paz que acaba de conquistar, e merece-o por razões passadas, presentes e futuras. O passado é esmagador, já que a grande conquista da UE é precisamente o maior período de paz consecutivo da História europeia: de 1945 até hoje - 67 anos -, nunca é demais relembrá-lo. Mas é também o “poder suave” com uma enorme influência para apaziguar conflitos pelo mundo e estabilizar países em perigo promovendo a boa governação, desde o Kosovo ao Sudão, desde Timor ao Médio Oriente. Esta é a região que encontra nos seus bolsos mais dinheiro para a ajuda ao desenvolvimento (53 mil milhões de euros em 2011, ou seja, 56% do total mundial, contra 20% dos EUA e ainda menos do Japão ou da China) e para a juda humanitária de emergência para catástrofes.
Um Nobel da Paz é uma esplêndida vitamina para o futuro de uma UE que, enredada nas suas contradições e confusa pela sua trágica ausência de líderes minimamente competentes, vive um presente angustiado e algo descrente. Exactamente por isso esta recompensa é a escolha certa no momento adequado: é verdade que tem uma componente congratulatória pela qual podemos e devemos estar orgulhosos, mas devemos sobretudo vê-lo como uma dourada sirene de alerta. Aquilo que conquistámos e o local onde queremos chegar, juntos, no maior espaço mundial de prosperidade, bem-estar e justiça estão seriamente ameaçados pelas loucuras, incompetência e/ou corrupção de uma infinidade de pequenos caciques locais ou nacionais. Que a Europa saiba meter a sexta velocidade, fazer uma fuga para a frente e coordenar-se para ser a solução do problema, em vez de ver a sua credibilidade caluniada pelas vistas curtas do homem da rua e dos ministros das Finanças que se escondem atrás das costas largas de Bruxelas; é este também o verdadeiro significado daquele estatueta que nos será entregue, a nós cidadãos europeus, em Oslo. Todos sabemos quão bom pode ser viver neste continente de excepção, e queremos as nossas vidas de volta. Queremos paz.
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