quarta-feira, 13 de março de 2013

E se fizéssemos as coisas bem?

“Um Estado que não educa e treina as suas mulheres é como alguém que apenas desenvolve o seu braço direito”. A citação é retirada de O mundo de Sofia, um livro de 1991 recomendável por muitas razões, que acaba de ser relembrado de forma algo inesperada: foi Belmiro de Azevedo quem o elogiou profusamente numa extensa entrevista (que concedeu ao seu próprio jornal, o Público, e sem se coibir de mais uma vez ameaçar de extinção o diário).

A frase toca em dois assuntos que surfam a crista da atualidade; comecemos pelo mais óbvio, a igualdade de géneros. O Dia da Mulher celebrado na passada sexta-feira recordou-nos que, como responsável máximo de uma grande empresa, Belmiro dificilmente se chamaria Belmira: 97,6% dos detentores dessa posição são homens – ao mesmo tempo que as mulheres estão em confortável maioria entre aqueles que detêm um curso universitário. O braço esquerdo europeu está subaproveitado, e é a sociedade como um todo que assim fica aquém do seu potencial.

Mas é sobretudo um outro aspecto que permeia da extensa entrevista ao velho engenheiro que importa destacar. Belmiro nem se apercebe do facto, mas as suas respostas quase completam, ao estilo de um balanço final (o administrador da Sonae está a abandonar todos os cargos executivos que ainda ocupa ao fim de 48 anos), uma autobiografia condensada de uma vida longa e largamente bem-sucedida – e o que transparece ali é a importância incontornável da educação, desde o professor primário de Marco de Canavezes eleito como a pessoa mais importante na carreira, à educação internacional dos filhos, difícil na altura mas valorizada actualmente, culminando no entusiasmo com que é referida a Porto Business School – uma criança recente, mas potencialmente sobredotada.

A PBS reúne muitas características que a podem transformar em referência no altamente competitivo mercado global das escolas de negócios (para o qual Portugal está algo tardiamente a despertar) e, de caminho, restaurar um pouco do nosso orgulho nas capacidades empreendedoras da parte oeste da península: pratica uma verdadeira política de ligação entre as empresas e a escola, só escolhe professores que tenham passado por instituições de vanguarda – entre os quais alguns oriundos de Harvard que ainda nem fazem ideia de como chegar ao Porto, ou o campeão de xadrez Garry Kasparov – e tem ambições bem definidas: ensinar de forma nova administração de empresas e posicionar-se entre as 20 melhores escolas de negócios do mundo. O início está a ser prometedor, dado que logo no primeiro ano em que foi classificada pelo Financial Times surge na 55.ª posição, já à frente de Lovaina, Maastricht, Zurique ou Varsóvia, escolas de negócios prestigiadas e já com anos de experiência.

Acima de tudo o resto, aquilo que poderá garantir a prevalência deste projecto é a procura da excelência. O fazer bem. O fazer melhor que os demais. A insistência na actualização constante e na capacidade de competir a nível global. Foi portanto adequado que a PBS tenha escolhido Linda Rottenberg como oradora na sua “conferência sobre liderança” realizada há um mês na Casa da Música: Rottenberg é uma líder visionária quase ímpar, uma das pessoas mais influentes a nível global, uma criadora incessante de emprego e riqueza com a sua empresa (a Endeavour). E uma mulher que nos relembra quão fulcral é que a nossa sociedade exercite o tal braço esquerdo.


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