quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sonhos hipersónicos

No meio de tantas notícias apocalípticas, seja sobre Portugal, o euro, a Europa e o mundo em que vivemos, é quase um prazer proibido ler algo que nos faça sonhar. Falo de uma ideia - ou um projecto ou uma descoberta ou um acontecimento - que nos faça reconciliar com a velha e desacreditada ideia de progresso. É raro que tal suceda, mas acaba de acontecer na Expo Aérea de Paris, que decorre esta semana em Le Bourget. Num aeroporto intimamente ligado à história da aviação, os europeus levantaram o véu sobre o possível futuro desta. E de caminho, também relembraram que este continente formidável continua na vanguarda do desenvolvimento humano e tecnológico.

O slogan escolhido para o novo avião, e repetido por meios de comunicação pelo mundo fora, fica no ouvido: "de Paris a Tóquio em duas horas e meia". A partir daí podemos continuar a fazer contas... de Bruxelas a Nova York em pouco mais de uma hora, de Londres a Sidney em três horas e meia, do Luxemburgo ao Porto em 20 minutos. 20 minutos! Menos do que os que são necessários para chegar da garagem de casa ao emprego todas as manhãs, e isto sem encontrar pelo caminho os três ou quatro maus condutores habituais.

O responsável por estas proezas é uma deliciosa utopia. O ZEHST (significa Transporte HiperSónico com Zero Emissões) é um avião ultrasónico, concebido na Europa e a ser fabricado na Europa. Não tem ainda formato definido, mas inspira-se claramente no mítico Concorde, desenhado nos anos 1960... a mais extraordinária tecnologia, no entanto, está na propulsão, com três tipos de motores - turborreactores convencionais, motores de foguetões espaciais, e motores usados para mísseis de altíssima velocidade - a serem alimentados apenas por biocombustíveis feitos a partir de algas marinhas. Um avião cuja velocidade de cruzeiro é de 5000 km/h (quatro vezes a velocidade do som) e que é também o menos poluente de sempre... tudo isto enquanto voa 32 km acima do nível do mar, acima das camadas mais densas da atmosfera terrestre (os jactos actuais voam a 10 km de altitude).

Se parece bom de mais para ser verdade, é porque provavelmente o é mesmo. Os próprios responsáveis por esta máquina, a EADS - o consórcio europeu que fabrica os aviões Airbus - só avança com a data longínqua de 2050, a 40 anos de distância, para os ter em funcionamento comercial. Mas de acordo com a empresa, toda a tecnologia apresentada já existe (ainda que alguma numa fase de desenvolvimento) e um protótipo sem piloto pode ser testado em 2020. Mais do que um supersónico castelo no ar, portanto. 100 pessoas de cada vez, pela módica quantia de 8000 euros por voo, poderão nessa altura ir jantar um sushi a Tóquio e voltar a tempo de chegar frescos ao escritório pela manhã. Um verdadeiro luxo asiático.

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