2015 é um ano de
Exposição Universal. A que está a decorrer, inaugurada a 1 de Maio em Milão,
tem todo o ar de uma gigantesca oportunidade falhada, mas é chocante que
Portugal não esteja entre os 145 países presentes (o Luxemburgo também não).
A Expo de Milão é
sobre comida, ou para ser mais preciso, o tema é “Alimentar o planeta, energia
para a vida”. O tema é acessível, interessa-nos a todos, e é de importância
fulcral – sobretudo numa altura em que as dúvidas crescem sobre a
sustentabilidade da produção alimentar na Terra. As ideias originais eram
também elas de alta qualidade: replicar a organização da cidade romana, com
duas ruas principais, e agrupar todos os países presentes em enormes
pavilhões-tenda que não só eliminariam as diferenças entre países ricos e
pobres, como também contariam com grandes quintais onde cada país produziria
alguns dos seus produtos típicos que seriam posteriormente oferecidos numa
longuíssima mesa na rua principal. Tudo isso por entre canais que serviriam
para transporte e irrigação dos novos terrenos agrícolas assim recuperados.
É quase inevitável
que essas ideias românticas chocassem de frente com a realidade de um evento
deste tipo e os desejos do BIE e dos seus patrocinadores. E foi assim que os
terrenos férteis da exposição foram cobertos com uma enorme placa de betão por
cima da qual cada país pôde construir o pavilhão como bem quis, enquanto um
enorme canal foi escavado e em seguida abandonado. Agora, durante a Expo, é
possível ouvir falar de culturas sustentáveis ao lado do pavilhão da
McDonald’s, ler sobre o chocolate do Peru mas apenas comer Nutella ou Rochero
Ferrer, ver fotos do café de Timor mas apenas poder beber café do patrocinador
Illy.
Problemas de
organização aparte, uma Expo continua a ser um fenómeno de impacto global; a
anterior, em Xangai (2010) teve um recorde de 73 milhões de visitantes, e é
neste tipo de palco que os países têm de competir e construir a sua marca,
atraindo investimento e turismo. Os custos de participação são negligenciáveis
comparados com o impacto brutal que a presença pode ter nas exportações de um
país, assim como nos visitantes adicionais que pode atrair. E como cereja no
topo do bolo, a Expo 2015 é sobre comida; uma das áreas onde Portugal é
especialista, tanto mais que a dieta mediterrânica é hoje celebrada como modelo
a seguir e património da Humanidade.
Mas os governantes
portugueses, os mesmos que venderam o Pavilhão Atlântico em Lisboa por menos de
metade do custo do edifício – desbaratando assim 33 milhões de euros – não
acharam que 7 milhões fossem um investimento meritório para promover perante o
mundo aquilo que Portugal fez de melhor, nem aquilo que temos para vender ao
mundo: os vinhos, o azeite, os peixes, o café, as frutas, tanto mais. Mais uma
vez, foi deixada à UE a tarefa genérica de defender algo de português; e é com
um misto de alívio e raiva que se visita o pavilhão espanhol, repleto de referências
precisamente a tudo aquilo que deveríamos orgulhosamente apresentar mas não
fazemos, por miopia, mesquinhez ou incompetência. Por falar em orgulho, o prego
final no seu caixão chegou no final, com a imagem gigante de um bacalhau
salgado… made in Spain.
Eu não produzo vinho
português nem tento exportar produtos com essa marca desvalorizada. Mas se o
fizesse, depois de visitar a Expo 2015, processava os governantes de Lisboa.
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