A matrícula da
limusina do presidente dos EUA tem o número 800 002 e diz “No taxation without
representation”. Esta não é uma frase qualquer – está ligada ao nascimento dos
próprios Estados Unidos. Em 1765, esta colónia debaixo da autoridade da Coroa
inglesa não podia eleger qualquer deputado ao Parlamento de Westminster. Assim,
os colonos americanos assistiam impotentes aos novos impostos que Londres lhes
impunha; e num discurso que ficou célebre, James Otis gritou “Impostos sem
representação significam tirania!”.
A tensão foi-se
acumulando até desembocar no famoso Boston Tea Party, considerado o ponto de
não retorno para os Estados Unidos como país independente. Londres aplicava
altas taxas a todo o chá desembarcado em portos americanos; algumas centenas de
rebeldes tentaram afastar três navios ingleses carregados mas, ao não serem
ouvidos pelo governador, acabaram por se disfarçar de índios e atirar para a
baía todos os 342 caixotes de chá – o suficiente para fazer mais de 18 milhões
de chávenas.
O resto é História:
os EUA fundaram-se – e acabaram por conquistar o mundo – partindo da convicção
profunda que o contrato social implícito numa democracia representativa é que
os indivíduos têm responsabilidades (como a de obedecer às leis), deveres (como
o de pagar os seus impostos) e direitos (como o de poder influenciar o rumo da
sociedade e da sua contribuição para a mesma, escolhendo os seus representantes
e líderes políticos). Sem cumprir esse contrato de base, uma sociedade pode
pavonear-se como livre, democrática e evoluída, mas não o é mais que a Roma
antiga, onde apenas uma elite de homens com terra e escravos era considerada
“cidadã”, ou que o Qatar, uma monarquia fechada e elitista.

O tremendo resultado
do “não” no referendo de domingo pinta um retrato algo assustador – até pelo
seu realismo – do pequeno país. Mas tal era esperado: não se pode pedir às
massas que exerçam o altruísmo. A natureza humana é egoísta e um privilégio
como ter direitos cívicos é mais valioso se for exclusivo e raro – nesse
sentido votaram os luxemburgueses, incluindo alguns “cristãos-novos”,
portugueses que abandonaram a sua nacionalidade julgando assim poder passar da
cozinha à mesa, por assim dizer, e que agora alegam que há poucos lugares à
mesa, portanto o melhor é que os seus familiares continuem na cozinha.
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