segunda-feira, 12 de abril de 2010

Como treinares o teu urso alemão

O mais recente filme saído dos estúdios da Pixar, estreado há poucos dias no Luxemburgo, chama-se “Como treinares o teu dragão” (How to manage your dragon). Não é um conjunto de conselhos para Jesualdo Ferreira, mas parece que o título serve também de código entre a equipa económica de Obama para as delicadas relações com a China, em que esta será o “dragão”. A Europa tem um desafio parecido, interno e mais premente: como lidar com a Alemanha, o país mais importante da União Europeia sob vários aspectos, nomeadamente os económico e populacional. Um país especial que se vem tornando mais “normal”, e isso traz consequências para os seus parceiros.
A Alemanha actual já não está agrilhoada pelo seu terrível passado; a geração no poder viveu na sua juventude 1989, o ano da queda dos muros, e embora carregue ainda aos ombros algum sentimento de culpa colectiva, dá passos firmes no sentido do renascer de um orgulho benigno. O exército desfila em Paris e participa em missões no estrangeiro (Afeganistão); durante o campeonato de 2006, os germânicos agitaram a sua bandeira negra, vermelha e dourada como verdadeiros discípulos scolarianos (os portugueses aliás também, o que enfureceu alguns sectores da intelligentsia luxemburguesa). Mais significativo: a Alemanha, verdadeira inspiradora de uma Europa funcionando como enquadramento e caixa amplificadora da sua relevância mundial, está um pouco cansada de pagar as facturas e, para desespero dos que querem uma UE forte e agindo em bloco, tem interesses de curto prazo muitas vezes divergentes dos europeus e age, qual França ou Reino Unido, apenas em função destes.
A Grécia descobriu-o da forma mais dura – e Portugal pode seguir-lhe os passos. A depauperada economia grega sofre e a ajuda financeira é mitigada e tardia, sob o signo do redutor argumento “as cigarras gregas podem reformar-se aos 57 anos, enquanto as formigas alemãs terão em breve de trabalhar até aos 67”. Não há dúvidas de que são precisas alterações dolorosas nas economias do sul da Europa, e de que a Alemanha comprimiu de forma brutal os salários nos últimos 10 anos de forma a manter-se competitiva (custos unitários do trabalho caíram 1,4% entre 2000 e 2008, enquanto em França e Luxemburgo não pararam de subir...); mas os desequilíbrios não podem ser corrigidos só por um lado. Os défices grego ou português acontecem também porque estes países, não podendo desvalorizar a sua moeda, perdem competitividade e importam maciçamente bens alemães (a Alemanha exporta metade dos seus bens para a UE). Não o reconhecer, e sobretudo não o corrigir – fazendo os alemães gastar mais dinheiro, seja em turismo ou vinho do Porto... –, não é a longo prazo do interesse de nenhum europeu. E pode mesmo levar ao desmembramento da zona euro.

A maior feira de arte do mundo está a 200 km

Maastricht é um nome popular entre os habitantes do Luxemburgo. A cidade é bonita, tem canais e arquitectura antiga e moderna, a universidade é reputada, e o carácter estudantil que esta lhe empresta cria uma atmosfera fresca e lojas muito originais que vendem todo o tipo de coisas difíceis de encontrar no Grão-Ducado, algumas mesmo ilegais aqui.

Mas a pequena cidade neerlandesa encerra um às na manga, ultrapassando de forma notável o velho choradinho da “falta de dimensão”: em Maastricht celebra-se todos os anos a maior feira de arte do mundo. O leitor já não vai a tempo de pagar os 55 euros da entrada para a visitar – encerrou no domingo – mas o centro de congressos e exposições albergou um certame de superlativos, com 263 expositores (24 mais que no ano passado) vindos de 17 países diferentes, e pelo menos 25 000 obras de arte à venda – tudo o que estava exposto, desde antigas estatuetas egípcias até pinturas pós-modernas –, que valiam no total uns extraordinários 3 mil milhões de euros. Na sua maioria as obras de arte estavam orientadas para o pequeno coleccionador, o que não impede que alguns verdadeiros tesouros, bem como outros de gosto discutível, não só estavam disponíveis como encontraram comprador. Exemplos notáveis: um dos grandes últimos quadros de Paul Gauguin no Tahiti ("Deux femmes"), por 18 milhões de euros; uma cama que pertencia ao grande diplomata Talleyrand (400 mil euros); um dos primeiros trabalhos do artista plástico britânico Damien Hirst, e que consiste num enorme porco conservado num tanque cheio de formaldeído (8,8 milhões de euros); outro quadro, este de Modigliani ("Jeune fille en bleu"), vendido por 13 milhões; uma pulseira em ouro maciço e diamantes feita em 1979 para Elton John (52 mil euros); ou belos exemplos de arte oriental e africana, cada vez mais procuradas. Seria interessante que os curadores dos museus do Grão-Ducado, com especial destaque para o MUDAM – um museu com magníficas instalações e quase nada na sua colecção para mostrar – seguissem com atenção a TEFAF (é o nome da feira). Lá estavam representados muitos dos museus europeus e norte-americanos.

Depois de dois anos de marasmo, o mercado da arte está outra vez vivo e vários negociantes afirmaram que esta foi a sua "mais bem-sucedida feira de sempre". Ou seja, nos escalões mais altos da sociedade, representados no desfile de jactos privados e roupas em caxemira que é também parte integrante desta feira, a crise está ultrapassada e esquecida. E a arte recuperou a sua função de bom investimento.

Mas se quiser comprová-lo ao vivo, só para o ano: a edição de 2011 começa a 18 de Março. Marque no seu smartphone.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Pequenos erros, daqueles que matam

Um terrível choque entre comboios perto de Bruxelas, enxurradas e inundações dantescas na Madeira. Em uma semana, duas catástrofes na Europa, uma lista arrepiante de vidas perdidas, rompidas, abaladas. Perdi para sempre uma colega, ela que naquela manhã apenas procurava vir trabalhar como em qualquer outra segunda-feira, e foi vítima de um comboio desgovernado. Amigos na Madeira também não ficaram ilesos. Não foi uma semana fácil. E as duas tragédias têm muito em comum; nomeadamente, poderiam ter sido evitadas ou mitigadas e não o foram porque os Estados ainda não se preocupam o suficiente em garantir a segurança básica dos que neles vivem.


A perda de uma vida humana, sempre irreparável e estúpida, ainda o é mais quando advém de um acidente – pior ainda quando esse acidente era evitável. Dois comboios chocaram na Bélgica, em Hal, porque um deles, conduzido por um jovem de 31 anos com licença há apenas um, passou um sinal vermelho. Falha humana? O serviço de segurança dos caminhos-de-ferro belgas contou 78 sinais vermelhos transgredidos por comboios ao longo de 2008 – nem todos podem ter sido por culpa dos maquinistas, mas o mais importante aqui seria saber porque é que isto não é evitado, quando seria evitável: bastaria equipar toda a rede com o sistema-padrão europeu ERTMS, que trava o comboio automaticamente se ele passar demasiado rápido num sinal. O sistema existe noutros países desde 2001 – o mesmo ano em que 8 pessoas morreram num outro choque na Bélgica, em Pécrot, devido a um maquinista inexperiente ter passado em sinal vermelho. Estas pessoas morreram em vão, dado que pouca evolução houve desde aí; 18 pessoas acabam de perecer em Hal. Entretanto, os SNCB têm dispendido os seus apreciáveis fundos em muitos domínios, com destaque para novas estações faraónicas (depois da de Liège, que custou 500 milhões de euros, o arquitecto Calatrava ultima a de Mons), mas a dotação para tal sistema no ano passado foi de uns simples… 18 milhões de euros. Agora a sua aplicação é prometida “para 2013, ou 2015 o mais tardar”.

Na Madeira a catástrofe foi “natural”; não há aqui espaço para discutir as importantes responsabilidades humanas nas alterações climáticas e no ordenamento do território inexistente que permite habitações sobre a linha da água ou estradas feitas ao longo de instáveis barrancos… mas a chuva torrencial caiu na manhã de sábado, e logo no dia seguinte o presidente do Instituto de Meteorologia afirmou que a existência de um radar (custo de dois milhões de euros) teria permitido “prever o temporal e lançar o alerta vermelho três horas antes”. Quantas das 42 vidas perdidas até agora contabilizadas teria sido possível salvar em três horas de preparação, não é possível saber. Mas sabe-se que quando as prioridades dos dinheiros públicos não estão em prevenir a vida dos seus cidadãos, os desastres são mortíferos.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Os gigantes também caem, mesmo que se chamem Toyota

“How the Mighty Fall”, ainda sem edição em português mas que se poderia traduzir por “Como caem os poderosos”, é um livro escrito pelo especialista em gestão Jim Collins e publicado há alguns meses. Nele o autor identifica cinco fases sucessivas do declínio de grandes e bem-sucedidas organizações humanas – o objecto da análise são as empresas, mas não é difícil transpor os argumentos para universidades, clubes de futebol, países ou mesmo civilizações… Registe-se que aos cinco estádios sucessivos da queda, Collins chamou: 1. Arrogância devido ao sucesso; 2. Procura indisciplinada de mais e mais; 3. Negação de riscos e perigos; 4. Desespero pela salvação e 5. Capitulação perante a irrelevância ou morte.

Conta-se que Akio Toyoda, neto do fundador da Toyota e presidente da maior fabricante de carros do mundo (9 milhões de veículos vendidos em 2008…), ficou muito impressionado após ler o livro, situando a sua companhia pelo menos no terceiro nível, mas mais provavelmente no quarto. De repente, o presidente de um gigante com mais de 300 000 assalariados, criador de toda uma cidade no Japão, orgulhoso de se ter tornado o maior construtor automóvel do mundo (ultrapassando a americana GM) e reputado construtor de sólidos produtos lançava ao mundo declarações muito pouco ortodoxas pelo negrume contido, com referências a “arrependimento ou morte”. Isto foi em Agosto.

Seis meses depois, o horror pressentido por Akio desvendou-se. Pressionada por mais de 2000 incidentes de “aceleração não desejada” – causando pelo menos 19 mortes – a Toyota decide-se finalmente a recolher e consertar os aceleradores de nada menos de 8 milhões de carros, na Europa, nos Estados Unidos, na China e em toda a parte. E como cereja no topo do amargo bolo, até o Prius, veículo destinado não a ser lucrativo mas a apresentar a Toyota como uma empresa nas vanguardas tecnológica e ecológica, não trava bem. Akio Toyoda escreveu esta semana ao mundo: “Lamento profundamente as inconveniências causadas…”

Ainda mais danosas para a marca do que os problemas técnicos são as revelações de que a Toyota já recebia queixas sobre estes problemas desde… 2003. E, como bom gigante em declínio, em plena fase 3 de Collins, nada fez, numa indesejada metáfora de todo um país, o Japão, estagnado numa “década perdida”. Agora pode ser demasiado tarde para a salvação – os concorrentes, grupo Volkswagen à cabeça, parecem muito determinados a arrebatar o ceptro de maiores do mundo.

Já fui o feliz proprietário de dois Toyotas; não desiludiram, não entusiasmaram. Dificilmente procurarei um terceiro, mas o livro de Jim Collins, esse aconselho-o vivamente.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O falcão luxemburguês e a pomba portuguesa

Quem é neste momento o líder europeu que torce mais o nariz ao ouvir o nome de Jean-Claude Juncker? Se o leitor respondeu “Sarkozy” é bem possível que se tenha enganado, já que a resposta pode muito bem ser “Sócrates”, ou pelo menos “Teixeira dos Santos”. De facto, a pugna entre Portugal e o Luxemburgo pelo cargo de vice-presidente do Banco Central Europeu está ao rubro e a partida disputada entre os governadores dos bancos centrais dos dois países, respectivamente Vítor Constâncio e Yves Mersch, tem tido alterações constantes no marcador e continua de vencedor incerto no fim do tempo regulamentar. E Teixeira dos Santos, adepto incondicional de Constâncio, acaba de chamar caseiro ao árbitro Juncker.

Juncker foi reeleito como presidente do Eurogrupo e, nessa mesma reunião, a sua primeira tarefa seria precisamente a de organizar uma votação entre os ministros das finanças da zona euro que decidisse o substituto (a partir de Junho) do grego Papademos. Mas sob pretexto de recear um empate (os mais maquiavélicos afirmam que na verdade o receio era de uma derrota de Mersch), o árbitro mandou todos para as cabinas e marcou uma finalíssima para Fevereiro – o pretexto foi o de pedir entretanto um parecer jurídico para definir como votar à luz das novas regras do Tratado de Lisboa (ironias da alta política, a mesma cidade onde labora Constâncio).


O governo português, desconfiando que Juncker sabia ser muito difícil eleger dois luxemburgueses no mesmo dia, não gostou do adiamento (“É estranho e prejudica a candidatura portuguesa”) e preferia ter ido a penáltis. Até porque Constâncio é conhecido por ser bom à defesa, ou seja, por ser em jargão “uma pomba”: menos preocupado com a inflação e mais com o desempenho económico e o desemprego, e reticente em começar a retirar os apoios públicos concedidos nos momentos mais duros da crise.

Mersch, pelo contrário, é a definição do “falcão”: a ortodoxia financeira é o seu credo, o combate à inflação o seu primeiro e grande objectivo; e como tal, a retirada do dinheiro público da economia uma prioridade. Mersch é “tão alemão como um alemão”, monetariamente falando, e isso também parece jogar contra si: a Alemanha quer para um alemão o lugar de presidente em 2011, e sabe que é necessário equilibrar presidente e vice com filosofias diferentes – daí parecer inclinar-se para Constâncio. Resta saber em que equipa jogará a França, depois da operação de charme de Juncker em Paris há duas semanas.

Se o empate persistir, o cargo – e os 21 532 euros mensais que ele significa para o seu titular – pode cair nas mãos de mais um outsider belga, neste caso em Peter Praet, o governador do banco central do país. Ou então num candidato de última hora. Aí está um desfecho que não agradaria a nenhum dos contendores, Portugal ou Luxemburgo, em luta para subir de divisão… política.

O império contra-ataca. E o objectivo é entrar no seu bolso.

Agora, é mesmo a guerra: depois de ter passado 2009 todo a negar que fosse lançar o seu próprio telemóvel, a Google começou 2010 apresentando o seu próprio telemóvel, o Google Nexus One (na verdade o aparelho é fabricado pela HTC). Estamos num novo período da apaixonante (e rápida: há apenas 15 anos, a sua utilização era marginal) história dos telefones portáteis e da sua actual encarnação, ou seja, um pequeno computador que está sempre connosco e faz muitas, mesmo muitas tarefas, e está ligado à internet para a maioria delas. Disse internet? A Google até nasceu depois dos telefones móveis (em 1997), mas já é indissociável da rede e vive dela – 99% das suas receitas advêm da publicidade em linha. Como todos nós vamos começar a fazer as nossas buscas usando telefones em vez de computadores, então o telefone Google está explicado.

Os riscos que o gigante corre são grandes. O negócio dos telemóveis é implacável e só os melhores sobrevivem: um mau aparelho pode arranhar profundamente uma marca, mesmo valiosa. Curiosamente, um bom aparelho também trará problemas à Google, porque o novo telefone usa o Android, um bebé da própria Google, numa versão mais avançada (2.1), irritando as aliadas que tem sido usadas (HTC, Samsung, Motorola, LG, Sony Ericsson, etc.) para fazer o trabalho de sapa de promoção deste sistema operativo. E com bons resultados, a tal ponto que os analistas de mercado prevêem que este seja o segundo maior do mundo em 2012, apenas atrás do Symbian da Nokia – esta empresa europeia continua a vender mais de um em cada três telemóveis no mundo, e também lidera nos smartphones, seguida pela Blackberry. Em terceiro vem o criador e referência deste mercado, o iPhone da Apple. E é esta a grande guerra.

Este seminal objecto de design continua a crescer e já significa 17% dos smartphones mundiais; para ter sucesso, a Google terá necessariamente de conseguir entrar no minado quintal da Apple. As duas empresas, inicialmente aliadas contra o império Microsoft, cada vez se foram dando pior ao competir pelo negócio da publicidade online, e a apresentação do Nexus One é a última declaração de guerra. A Apple respondeu no mesmo dia ao comprar uma empresa cuja tecnologia permite colocar publicidade em dispositivos móveis. Sejam telemóveis ou… computadores tablet, do tamanho de ardósias de escola, que vão ser o próximo campo de batalha.
E o utilizador? Qualquer que seja o seu telefone, a Google sabe muito sobre si. E guarda religiosamente pelo menos por dois anos tudo aquilo que escreve na internet. Em resposta às preocupações quanto à invasão da privacidade dos cidadãos, o CEO da Google acaba de declarar: “Se faz algo e não quer que ninguém saiba, provavelmente nem deveria estar a fazê-lo”. Agora ele também quer conhecer os seus bolsos.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Honestos passageiros de todo o mundo, revoltai-vos!

Sejamos sinceros: viajar de avião é um suplício. E as coisas vão piorar depois de dois incidentes ocorridos esta semana, ambos em aviões a viajar de Amesterdão para Detroit. O primeiro provavelmente real, o segundo nem por isso (mas já lá vamos).

Imediatamente – e ainda antes de alguém averiguar o que se passou ao certo nos dois aviões - companhias de aviação e aeroportos se uniram para reclamar “novas medidas de segurança”. Tradução: mais atrasos, mais filas, mais invasões da privacidade, mais aborrecimentos, mais custos. Custos para os pobres passageiros, evidentemente, que suportam a subida astronómica das taxas aeroportuárias nos últimos anos (o Porto já cobra mais de 35 euros por uma partida, um dos mais altos valores da Europa). Centenas de milhares de pessoas, após um árduo ano, não têm outra alternativa senão pagar preços inflacionadíssimos só para passar alguns dias com a família no Natal – mas tal não os livra de serem tratados alternadamente como gado e como mina de ouro ambulante. Primeiro o gado: os requisitos estapafúrdios, a pouca simpatia recebida, as filas labirínticas, o descalçar, o abrir as malas. Depois a mina de ouro: não bastando o enorme número de empregos em todo o tipo de vigilantes de aeroporto (cujas atribuições, curiosamente, não parecem impedir o roubo de malas), há ainda uma parafernália de lojas de aeroporto cheias de artigos inúteis e a preços monopolistas para visitar… e quanto mais tempo for possível obrigar as pessoas a passar dentro das instalações, melhor.

O segundo incidente ocorrido num voo para Detroit esta semana não passou de um passageiro que “esteve cerca de uma hora na casa-de-banho e, quando interpelado, reagiu mal”, segundo comunicou o FBI. Discussões deste género acontecem milhares de vezes por dia, e até na minha casa-de-banho. Mas esta, propositadamente repetida e amplificada por todos os media mundiais, servirá de pretexto para “medidas” como a Air Canada já anunciou: na última hora do voo, todos os passageiros são obrigados a ficar colados ao assento. Outras companhias pensam proibir o acesso à própria bagagem de mão. Numa decisão que é pelo menos mais honesta – porque busca declaradamente o lucro sem estar travestida de “medida de segurança” – a Ryanair vai começar a cobrar 1 euro por cada utilização das “toilettes” – há uns anos, em Portugal, o controlo do tempo aí passado pelas funcionárias de empresas têxteis provocou um clamor social, mas vemos agora que tais tácticas humilhantes pecavam apenas pelo amadorismo.

Tanta imaginação para extorquir mais tempo e dinheiro aos passageiros, mas basta um dia de neve como o passado 20 de Dezembro para cancelar os voos de meia Europa, como se a água congelada fosse uma ameaça tão letal e inesperada. Definitivamente, as companhias de aviação não estão de acordo com a máxima de que a viagem faz parte integrante do prazer de viajar.