Poderia estar a falar do Europeu de futebol que terminou no domingo, mas não; é uma simplificação dos desenvolvimentos do Conselho Europeu “decisivo” da semana passada. A cimeira foi apresentada como decisiva para salvar a moeda europeia – a 19.ª cimeira merecedora de tal título desde o início da crise financeira. Talvez pelo cansaço acumulado, a verdade é que as expectativas em relação ao resultado de mais este jamboree dos líderes europeus eram baixas... e acabaram por ser ultrapassadas. A Itália e a Espanha ameaçaram vetar qualquer acordo enquanto a Europa (leia-se, a Alemanha da chanceler Merkel) não concedesse medidas óbvias para reduzir a asfixia financeira em que se encontram os países da periferia europeia: sem liquidez na economia nem nos bancos e obrigados a financiarem-se a taxas de juro proibitivas nos mercados.
E, às altas horas da madrugada de sexta-feira, as decisões finalmente surgiram. Os fundos europeus de estabilização (o BCE ainda não, mas tal não passa de uma questão de tempo) vão poder comprar obrigações dos países que “que cumpram com as suas reformas”, permitindo-lhes financiar-se a juros razoáveis e não depender totalmente dos intolerantes mercados; os bancos em dificuldades vão poder recapitalizar-se para poder 1. sobreviver, e 2. começar a emprestar algum capital de volta à economia. E para compor o bolo há ainda 120 mil milhões de euros que serão redireccionados para grandes projectos de infraestruturas, ajuda a regiões desfavorecidas e crédito a pequenas e médias empresas.
Estes são os primeiros passos significativos que se afastam do mantra da austeridade, do ajustamento fiscal, ou da punição pelas políticas irresponsáveis. Quase quatro anos após o eclodir da crise, mais de dois anos após a imposição deste “caminho único” (e errado), as economias europeias estão de novo a entrar em recessão, o desemprego é galopante, e não se vislumbra a luz ao fundo do túnel. Mesmo que forçado por duras negociações políticas, o fim da inflexibilidade alemã é simbólico e motivo de júbilo, dado que pode significar o primeiro passo num longo caminho de recuperação económica. E as bolsas, pelo menos num primeiro momento, reagiram em verdadeira euforia.
Resolver a crise exigirá muito mais visão, coragem e europeísmo do que a timidez demonstrada até agora. Exigirá, para começar, dívida pública comum, um maior papel de intervenção do BCE, e uma taxa de inflação mais alta. Esperemos que a 20.ª cimeira para salvar o euro o perceba – já perdemos demasiado tempo.
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