terça-feira, 10 de julho de 2012

A Microsoft mete mais um avançado

Se o caro/a leitor/a se interessar por futebol, arrisco-me a adiantar dois pontos prévios sobre o seu conhecimento: 1. sabe que a selecção portuguesa, ganhando à selecção espanhola, se poderá apurar hoje para a sua segunda final de um Europeu; e 2. também sabe que quando uma equipa grande está a perder com uma equipa mais jovem e aguerrida, a solução de que o treinador lança mão é inevitavelmente meter o avançado predador que o público pede desde o primeiro minuto, o salvador de quem se espera que seja capaz em poucos minutos de fazer o que o resto da equipa não conseguiu fazer em uma hora: dar a volta ao jogo.

De certa forma, foi isto que a Microsoft fez esta semana. Consistentemente batida no mercado dos computadores pela muito mais dinâmica Apple, sem armas para travar o sucesso retumbante da "ardósia" iPad - que ameaça agora arrancar milhões de utilizadores da frente dos seus PCs de secretária e sentá-los, em vez disso, no sofá em frente ao seu fino ecrã negro -, a Microsoft decidiu entrar no mercado florescente criado pelo mesmo iPad, o dos tablets. O novo ponta-de-lança que a empresa criadora do Windows lançou para o terreno de jogo chama-se Surface (superfície); é um tablet, ou seja, um computador (limitado nas suas capacidades) cujo formato físico não passa de um ecrã fino e leve. E sem teclado, embora o novo Surface se queira destacar exactamente por essa vantagem competitiva: a sua cobertura em borracha flexível inclui teclas e mesmo uma espécie de rato de portátil, medindo apenas 2 mm de espessura e acoplando-se magneticamente ao tablet. Interessante, como interessante é o formato 16:9 do ecrã, ideal para ver filmes.

Mas o Surface está a entrar num jogo minado, e é provável que se venha a juntar às fileiras de produtos medíocres que apareceram com a missão de combater o iPad... e perderam. A ideia da Microsoft é copiar as boas ideias da empresa da maçã, e a apresentação do Surface foi feita ao mais puro estilo Apple. O vice-presidente Steven Sinofsky, calvo, usou um pulôver azul liso e um estilo cool muito, mesmo muito similar ao do falecido Jobs; um vídeo muito popular no YouTube mostra que até as frases utilizadas foram decalcadas da apresentação do iPad há mais de dois anos. Viral, no entanto, e também o mais comentado sobre o novo computador, foi o vídeo que mostra o Surface a bloquear nas mãos de Sinofsky exactamente quando este lhe gabava as qualidades multimédia, multitarefa e de surfista de internet... o desejado ponta-de-lança já está lesionado e ainda não entrou em campo.

Ver o falhanço em directo do Surface incomoda, e isto porque é impossível não sentir alguma pena pelo abandonado apresentador. Consciente que o futuro da sua empresa reside até certa medida no sucesso daquela tablete nas suas mãos, Sinofsky lutou como pôde: primeiro escondeu o ecrã e continuou a falar, depois mudou de assunto - mas o computador continuou teimosamente bloqueado -, em seguida soltou um pouco convincente "ups!", finalmente pediu desculpa e correu para uma mesa perto, trocando de tablete. Aflitivo, e revelador: como sempre, a cópia não passa de uma pálida imitação do original. A Microsoft abriu uma frente de batalha contra a Apple que vai provavelmente perder, e não contente com isso, compete agora também com os seus antigos aliados (HP, Acer, Asus, Dell...) que faziam hardware com Windows e estão agora furiosos por nem terem sido consultados sobre o Surface.

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