terça-feira, 10 de julho de 2012

Grécia-Alemanha


No sábado à noite, a seleção da Grécia surpreendeu a Europa ao qualificar-se para os quartos de final do Europeu de futebol. No domingo, a Grécia foi a votos pela segunda vez em seis semanas, numa eleição crucial para o futuro do país, e escolheu continuar no euro - a moeda, claro.

A ironia é que no futebol a Grécia vai agora defrontar a até agora imbatível Alemanha, que se qualificou no mesmo dia das eleições - e sobre estas já surgiu um cartoon certeiro: "Quem ganhou as eleições na Grécia?", pergunta um homem a um amigo que está a ler um jornal. "A Alemanha...", foi a imediata resposta.

As hipóteses da Alemanha para o jogo desta sexta-feira em Gdańsk são fortes, obviamente, e será complicado para o treinador que orienta a equipa grega (o português Fernando Santos) fazer prevalecer a habitual estratégia de antijogo dos helénicos. De uma forma ou outra, o vencedor do jogo será um e um só; já os resultados das eleições são bem mais difíceis de analisar. O partido mais votado (Nova Democracia, ND) pertence ao mesmo grupo de centro-direita a que pertence a CDU de Angela Merkel (o Partido Popular Europeu, que domina actualmente toda a política europeia); e a sua vitória representa, até certo ponto, uma decisão a favor do caminho pré-determinado de mais austeridade em cima do quinto ano de recessão no país. Rapidamente apareceram títulos de imprensa como "a vitória da responsabilidade sobre o aventureirismo", ou "a Grécia escolheu a Europa". Até certo ponto, isto é verdade e motivo de alívio e regozijo, porque o evoluir do país é crucial para o euro e a economia global. Mas cuidado com as análises rápidas; há imensos matizes cinzentos nesse retrato a preto e branco.

O primeiro é, desde logo, a História recente: em 2008, quando a economia grega implodiu, os conservadores estavam sozinhos no poder e, perante o agudizar da situação, pediram eleições antecipadas, sendo aí duramente castigados pelo eleitorado que quis punir a sua má gestão. Ainda assim, nesse ano, a ND foi para a oposição com 33% dos votos, enquanto agora não passou dos 29,7%... uma posição muito fragilizada sobre a qual tentar formar governo. E com quem? Com o Pasok, o anterior líder, que perdeu 2,3 milhões de votos (passando de 44% a 12% do total) em apenas três anos? Com a esquerda radical do Syriza, os populistas que desejam rasgar o acordo com a troika ao mesmo tempo que se manteriam no euro? Com o Dimar, uma pequena cisão deste último liderada por um advogado ex-comunista? Ou pior ainda com o Aurora Dourada, um partido abertamente neonazi cujo momento selvático da campanha foi a agressão em directo na tv de um seu candidato (homem) a duas candidatas (mulheres) da esquerda?

Nenhum destes parceiros é boa companhia para tranquilizar os mercados e os parceiros europeus, e acresce que o próximo primeiro-ministro, Antonis Samaras, se opôs em 2010 ao primeiro resgate do país - algo que não fica bem no currículo de alguém que quer convencer os credores que vai fazer tudo para cumprir as condições draconianas do segundo, e provavelmente de um terceiro. Sim, porque o caminho para a Grécia é cada vez mais sinuoso e o paciente está cada vez mais enfraquecido pelas exigências da suposta cura. O filme é desconfortável para os portugueses, que reconhecem nele demasiadas profecias, mas a verdade é que - exaustos, angustiados, confusos - os gregos mostram nas suas repetidas eleições que já não sabem bem por onde ir. Mas sabem pelo menos por onde não ir: nestas legislativas, o Partido Trabalhista Pan-Agrário, liderado por Miltiadis Tzalazidis, obteve exactamente... 1 voto. O senhor Tzalazidis também tem ainda algum trabalho pela frente.

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