quinta-feira, 20 de junho de 2013

E agora ainda mais perigoso

O mundo acaba de tornar-se um sítio pior de um dia para o outro. Aconteceu este fim de semana, num deserto anónimo perto da cidade de Austin, no Texas (e sim, tinha mesmo que ser no Texas). Para o homem foi um pequeno frémito, para a Humanidade é um grande arrepio.

O homem disparou uma arma no deserto. Por si só, tal facto não é notícia, muito menos num país que perdeu nada menos de 170 mil pessoas mortas com uma arma de fogo só nos últimos dez anos. Mas esta é uma arma especial: é feita de plástico, e foi o próprio atirador – um radical “libertário”, ou seja alguém anti-social que odeia tudo o que sejam poderes públicos – quem a imprimiu em casa. Imprimiu? Exactamente. Cody Wilson, um estudante de Direito de 25 anos, usou uma tecnologia revolucionária e com um potencial tão grande que chega a ser difícil de avaliar – e a história é sempre a mesma: a metralhadora foi inventada antes da máquina de escrever, o átomo serviu para fabricar bombas antes de fornecer energia limpa ou barata, uma nova ideia poderosa pode sempre ser usada para o mal em vez de para o bem. Cody Wilson resolveu usar uma impressora 3D para o mal.

Uma impressora 3D é uma máquina industrial que utiliza alguns tipos de polímeros (plásticos, basicamente) para, camada a camada, “imprimir” objectos reais seguindo instruções de um computador comum. A tecnologia, antes imperfeita e proibitivamente cara, tem vindo a democratizar-se ao ponto de existirem já um ou dois modelos que custam menos de 2000 euros – a impressora usada por Wilson, do tamanho de um frigorífico, custa mais do dobro mas continua a ser acessível a muitos indivíduos. E a vontade do libertário é mesmo essa: que qualquer pessoa com um aparelho destes e uma ligação à net, em qualquer ponto do planeta, possa obter uma cópia dos seus planos e fabricar uma arma que “funcione”. Ou seja, que possa disparar uma bala e matar outrém.

Plástico não é o material ideal para fabricar armas – nem as bisnagas de Carnaval funcionam durante muito tempo devido às deformações. Mas apresenta vantagens: é leve, barato, e não acusa num detector de metais. Está dado o primeiro passo para a proliferação de armas mortíferas – contornando as leis e os controlos, um terrorista, ou um doente mental, pode fabricar uma na sua garagem e levá-la consigo no avião. É talvez a isto que o inventor da arma de garagem chama “criar o seu próprio espaço soberano”. Os auto-elogios ao sucesso do primeiro disparo de sempre, realizado no domingo, são assustadores no seu messianismo: “É uma nova ordem que nasce da velha ordem em ruínas. Vão haver aqui grandes mudanças”.

A mudança é a única constante dos nossos tempos. Mas terá mesmo de ser sempre mudança para pior?

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