Este domingo
realizaram-se eleições na Bulgária. Entre acusações generalizadas de batota
eleitoral, o partido de direita que já estava no poder obteve uma maioria
relativa. Um resultado surpreendente após o governo anterior ter caído em
Fevereiro, empurrado por dramáticas manifestações que nas ruas gritavam
“mafia!” e “demissão já!”.
O país mais pobre
da UE entrou em convulsão social, não directamente devido à cartilha da
austeridade (ali seguida à risca - o
Estado praticamente não tem défice, pagando isso com uma economia estagnada e
uma população que tem de emigrar para poder viver dignamente), mas sim devido
aos preços da electricidade. Estes são os mais baixos da Europa, mas neste país
os salários são também os mais baixos da UE (em média, 400 euros; como mínimo,
159 euros por mês). Enraivecida pelo último aumento, conhecendo as obscenas
margens de lucro dos operadores do mercado da electricidade, a população
revoltou-se.
Felizmente para
António Mexia e Eduardo Catroga, dois saudosistas dos regimes de antigamente,
os portugueses constituem um povo muito mais manso que os búlgaros; se não o
fossem, não aceitariam ser espoliados pela EDP que aqueles dirigem. A companhia
monopolista em Portugal (79% da produção através participações nos
concorrentes, e 99% da distribuição e comercialização) faz-se cobrar bem por
uma das electricidades domésticas mais caras da Europa, mais cara que na
Suécia, França ou Reino Unido, com o propósito confessado de “maximizar a
criação de valor para os seus accionistas” (estes são principalmente chineses,
havendo também bancos portugueses, argelinos...). Aparentemente tal não chega,
porque a empresa acaba de ser condenada pela segunda vez em tribunal a reembolsar
105 mil clientes a quem cobrou demasiado, propositadamente e sem pudor.
E se as tarifas
da EDP são altíssimas (permitindo a uma das empresas mais abastadas em Portugal
projectar um segundo, e faraónico, “Museu da Electricidade” em Lisboa de forma
a conseguir gastar algum do excedente), os impostos sobre a electricidade
doméstica também o são. Isso permitiu ao Estado criar uma “entidade reguladora
dos serviços energéticos” cuja missão é “proteger os consumidores em relação às
tarifas” e “promover a concorrência entre os agentes intervenientes nos
mercados” (está no sítio web da ERSE,
sem nenhum smiley a denotar ironia).
Este sonolento organismo pode não fazer muito, mas é pelo menos bom empregador:
os seus administradores auferem 12 000 euros por mês e “continuam a receber 2/3 do salário,
por dois anos, mesmo após cessarem funções” (está no Diário da República,
também sem ironia).
O lucrativo e bem
protegido monopólio da EDP ou o governo búlgaro que vence eleições suspeitas
depois de ter caído nas ruas são duas faces da mesma sociedade-casino em que
vamos vivendo: aparentemente há muitas “alternativas”... mas no fim a casa
ganha sempre.
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