O titã Prometeu é um dos mais personagens de maior
influência na mitologia grega. Ao exercer um enorme fascínio sobre os autores
clássicos, que por sua vez definem uma grande parte da cultura ocidental nos
últimos dois milénios, a história de Prometeu é uma metáfora poderosa sobre as
relações humanas ou, em última instância, do que somos enquanto espécie.

Os deuses actuais da Grécia são os seus credores,
nomeadamente os bancos alemães, e pelo uso descuidado do fogo/euro que a Grécia
fez condenaram-na a nova punição eterna: a servidão financeira sem fim, sem
redenção à vista, sem recuperação possível. A cada ponto percentual de redução
do défice que a Grécia obtém – e os números mostram que o país tem feito um
esforço verdadeiramente titânico nesse sentido –, logo aparece a águia da
austeridade para comer fígado, coração e cérebro com o seu círculo vicioso,
pois os multiplicadores macroeconómicos associados significam que para cada
excedente do défice são precisos cortes duas vezes mais altos, e a economia vai
contrair-se três vezes mais. Em números: nas duras negociações que estão a
decorrer (e a falhar) enquanto escrevo estas linhas, os credores exigem uma
melhoria orçamental de 1,66% do PIB grego (de um défice esperado de 0,66% para
um superavit de 1%); mas para atingir esses 1,66%, serão precisas medidas
(aumento dos impostos e corte nas despesas do Estado) no valor de 3,33% do PIB
– e a economia vai contrair-se em cerca de 5% do mesmo. Finalmente, o aumento
da dívida é grosso modo proporcional ao encolhimento do PIB – mas como a dívida
grega já está nos 180%, o aumento seria de 9 pontos percentuais, caminhando a
passos largos para uns impensáveis 200% do produto. Mais ou menos o dobro de
antes da intervenção da troika, há cinco anos.
Há dois cenários indesejáveis na mesa: ou a Grécia
continua a sua penitência para sempre, com toda uma geração de jovens gregos a
ser punida por eventuais erros das anteriores gerações, um desemprego
generalizado, uma economia espartilhada, uns pagamentos de juros agiotas; ou o
país entra em incumprimento, sendo levado a sair do euro, os seus bancos deixam
de funcionar, o dinheiro desaparece, e os efeitos dentro de portas – mas também
nas restantes economias do euro e no próprio projecto europeu – são
imprevisíveis mas certamente devastadores. E isto para todos.
A dívida continua a ser um problema político e não
técnico. São os políticos – Tsipras, Merkel, Hollande, Juncker – quem o deve
resolver de forma duradoura e não ideológica, e está a chegar a altura de o
fazer. O eminente economista Thomas Piketty afirma que mais tarde ou mais cedo
será obrigatório reestruturar e perdoar todas as dívidas soberanas, incluindo a
de Portugal; quanto mais tardarmos, pior ficará a situação.