Claro que estas altas expectativas são irrealistas, até porque os dois temas que ajudaram a eleger os Verdes tornaram-se agora, no dia a seguir à eleição, dois problemas bicudos: o grande projecto de reconstrução da estação de comboios e centro de Estugarda, que já está em marcha mas é profundamente impopular e contra o qual os Verdes sempre se bateram, custará em indemnizações por incumprimento quase tanto como se for em frente; e a oposição à energia nuclear é considerada essencial pelos eleitores, mas deixa-os com centrais desactivadas nos braços e um défice para pagar a conta de energia do Estado. Ainda assim, que evolução para um partido de protesto, quase anarquista, criado há apenas 30 anos!

O futuro é cinzento. Cinzento como os fumos emitidos por um Mercedes ou um Porsche, automóveis rápidos e poluentes, cujas míticas marcas sediadas em Baden-Vurtemberga escondem mal o seu desconforto perante o novo governo que já fala em limitar a velocidade nas autobahnen. Ou cinzento como o futuro próximo da economia portuguesa, cada vez mais apertada na tenaz da incompetência, laxismo e corrupção de sucessivos governos centrais, e com uma cura preconizada pelo FMI à base de sanguessugas económicas que vão prolongar a recessão do país. Os portugueses estão extenuados, e absolutamente fartos dos partidos tradicionais, vistos como nada mais que federações de interesses; estariam assim reunidas as condições para o aparecimento de um fenómeno tipo Verdes. Só que estes em Portugal não passam de “melancias” – verdes por fora, vermelhos por dentro, o partido não é mais que uma extensão do PCP, ali condenando a ecologia à irrelevância. Logo...
O futuro é camaleão. Na falta de esperança, os portugueses seguem o primeiro a prometer ar fresco. Há cinco anos, Manuel Alegre, político e partidário toda a sua vida, acenou com uma suposta independência: teve um milhão de votos. Em Janeiro, Fernando Nobre, um antigo simpatizante monárquico que em 2005 era mandatário do Bloco de Esquerda, foi lançado por Mário Soares e concorreu a presidente da República “acima dos partidos, pelos valores”. Teve 14% dos votos e em Março afirmou taxativamente “não querer nenhum cargo partidário ou governativo”. No sábado o PSD apresentou o seu cabeça de lista por Lisboa, chama-se Nobre. Ironias da nomenclatura.
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