
Toda esta
opulência espanta-me, como me intriga a aparente despreocupação destas
companhias nos tempos árduos que vivemos. Parte da explicação encontra-se em factores
culturais, patentes por exemplo num estudo publicado na passada semana que
descobriu que “62% dos portugueses utilizam o telemóvel mesmo durante o jantar,
e 20% levam-no consigo para a cama quando vão dormir”. O pequeno gadget como extensão da personalidade.
Não esqueçamos que há pelo menos 11 milhões destes bichos em Portugal, e com
tendência para a multiplicação, ao passo que pessoas, essas, há cada vez menos
(pois emigram).
Mas a melhor
explicação para a cornucópia das operadoras é bem mais vil: falar ao telefone é
aqui absurdamente caro. A observação pessoal já cada um de nós a fez, por
exemplo agora durante as férias da Páscoa, e mesmo tendo o cuidado de adquirir
um cartão SIM português – em poucos dias gasta-se tanto como num mês passado
noutro país europeu. Absurdamente, pago menos se fizer uma chamada
internacional, em roaming, com um
telefone luxemburguês (35 cêntimos) do que se ligar com um telefone português
para casa, cinco minutos antes de lá chegar, para perguntar o que é o jantar
(36,6 cêntimos)! As comparações científicas, feitas cuidadosamente de forma a
ultrapassar a (propositada) complexidade dos diferentes planos de tarifas,
comprovam a ideia: os operadores portugueses dividem cuidadosamente o mercado
entre si de forma a limitar a concorrência e obter um lucro obsceno, muito
acima do “lucro normal” teorizado na microeconomia. A OCDE comparou quatro
diferentes tipos de utilizador de telemóveis em vários dos seus Estados-membros
(sendo Portugal um dos mais pobres), e invariavelmente a TMN e a Vodafone
portuguesas estão entre as mais caras operadoras de telecomunicações do mundo.
Num cliente de assinatura e que utilize 300 minutos de conversa por mês,
conseguem mesmo a duvidosa honra de pedir o segundo preço mais alto, cinco
vezes mais que para um serviço equivalente comprado no Reino Unido...
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