Para que serve o
Eurogrupo? Está desculpado se não puder responder a esta questão, caríssimo
leitor(a), ou mesmo se pensar que estamos a referir-nos à primeira fase da Liga
dos Campeões em futebol. A verdade é que a “reunião informal de ministros das
Finanças dos 17 países que compõem a zona euro” nem sequer tem um nome oficial
designado nos tratados europeus, e as suas funções económicas e políticas repetem
as desempenhadas por outros órgãos e cargos: o Banco Central Europeu, o
presidente permanente do Conselho Europeu, o comissário europeu para os
assuntos económicos, o conselho de ministros das Finanças (Ecofin, que reúne
todos os 27 países, enquanto o Eurogrupo apenas reúne os 17 que utilizam o
euro)...
Com o tempo, foi
no entanto esta construção informal (tão informal que não existiam regras
escritas para a sua existência até 2009) que se consagrou como a mais
importante na arquitectura do euro e na governação económica de toda a Europa –
e há poucas tarefas mais importantes no mundo político que esta. As características
do grupo assim o proporcionaram: os 17 ministros das Finanças gerem todos a
mesma moeda, por isso têm interesses similares, e tendem a ser menos
demagógicos (e já agora, é suposto perceberem bastante mais de economia) que os
políticos de carreira que chegam habitualmente a primeiro-ministro. E mais uma
vez, o Luxemburgo beneficiou das suas fraquezas para conseguir um lugar de
destaque nesta instituição de poder: como o país é inofensivamente pequeno e
ocupa uma posição de charneira entre a França e a Alemanha, foi considerado
campo neutro: o primeiro Eurogrupo deu-se em 1998 no castelo de Senningen, e em
2005, quando foi eleito um presidente permanente, a escolha lógica recaiu sobre
o economista luxemburguês Jean-Claude Juncker. Até agora foi ele o único a
ocupar o cargo, indo já no seu quarto mandato, que termina em Junho.
“Certamente não serei eu”, disse Juncker quanto questionado sobre quem lhe vai
suceder.
Não admira. Em
Junho próximo, as capitais europeias verão com alívio a saída de cena de um
homem directo (até algo brusco), que não tem problemas em dizer o que pensa e pensa
muitas coisas, demasiadas mesmo – até porque algumas delas contraditórias.
Sobretudo, Juncker será lembrado por não ter sabido ou querido actuar no
momento e na medida certos para impedir a crise, o pânico e o quase
desmembramento da moeda de que era suposto ser o mais activo defensor. Com um
guarda-redes tão inactivo é difícil obter resultados nas competições europeias,
e Merkel já avisou que a partir de agora será o seu próprio ministro – Schäuble
– a defender os ataques.
A ironia é que,
apesar do prestígio intramuros de que goza o homem que gere os destinos do país
desde 1995 e o único luxemburguês a presidir a uma organização internacional (e
também o único oriundo do país que é conhecido fora das suas fronteiras),
Juncker, o europeísta, abandona a Europa
pela porta pequena: não conseguiu presidir à Comissão Europeia (batido por
Barroso), não foi escolhido para primeiro presidente permanente do Conselho
Europeu (batido no prolongamento por Van Rompuy) e não conseguiu realizar um
bom trabalho como “senhor Euro” ao longo de sete anos. Se voltar ao grande
palco internacional – do que duvido –, o seu próximo cargo será apenas honorífico.
Sem comentários:
Enviar um comentário