O menino-prodígio
que aos 14 anos inventou a tecnologia RSS – hoje em dia ubíqua na rede,
permitindo aos utilizadores receberem feeds
com actualizações em tempo real com, por exemplo, notícias – tinha escrito o
seu manifesto, “Guerrilha pelo Acesso Livre”, em 2008, o ano da grande crise; o
livro abria com a frase “A informação é poder. E, como acontece com todo o
poder, há aqueles que a querem guardar só para si”. Swartz, avesso a todas as
formas de controlo abusivo, era um enorme paladino do acesso de todos à
informação; ao defender a sua causa, estabelecia ao mesmo tempo para si próprio
(e para os que o rodeavam, o que tornava as suas relações pessoais mais
difíceis) padrões morais e intelectuais altíssimos, quase impossíveis de
alcançar.
O ideal filosófico
de que a informação é poder e deve ser partilhada livremente presidiu à
concepção da Rede tal como a conhecemos (e não por acaso o “pai” da mesma, Tim
Berners-Lee, foi dos primeiros a lamentar publicamente a perda de Swartz).
Desde então, está sob constante ataque por parte de governos e corporações,
interessados em manter os seus súbditos (nós) ignorantes e logo mais facilmente
manipuláveis. Swartz era apenas uma pessoa, um jovem cuja inteligência
prodigiosa lhe permitia encetar acções anti-sistema que considerava justas –
como escrever um elegante programa de computador que permitia o acesso grátis a
registos legais que eram antes duplamente pagos, por exemplo, ou ajudar a
derrotar uma lei feita à medida das companhias discográficas, por exemplo. O
dinossáurico sistema, bem entendido, queria usar a cabeça daquele idealista
como exemplo disuassor e esperava uma oportunidade para se vingar; esta surgiu
quando Swartz descarregou para o seu computador portátil 4,8 milhões de
trabalhos científicos da base de dados do MIT, uma das mais prestigiadas
universidades do mundo, de forma a disseminar esse conhecimento livre e
gratuitamente pelo mundo em linha.
“Chamam-lhe roubo ou
pirataria, como se partilhar a riqueza do conhecimento fosse o equivalente
moral a pilhar um navio e assassinar a tripulação... mas partilhar não é imoral
– é sim um imperativo moral. Apenas aqueles cegos pela ganância recusariam
deixar um amigo fazer uma cópia.” O governo norte-americano não se impressionou com a profecia e levou
Swartz a tribunal, mesmo após o MIT ter desistido da queixa. O julgamento
começaria em abril próximo e a pena poderia ir até aos 35 anos de prisão, mais
do dobro da pena máxima para assalto à mão armada. O homem de 26 anos que
desafiou o sistema soçobrou perante a insanidade da palhaçada travestida de
justiça, e foi encontrado sem vida em casa. Agora, a internet está inundada de
chocados tributos a alguém excepcional – um idealista, um visionário, um
pequeno génio irascível, um promotor do conhecimento humano, um homem de
princípios irrevogáveis. Provavelmente um pouco de tudo isto, mas para mim o
melhor elogio que se (lhe) pode fazer é: um valoroso defensor da liberdade.
Gosto muito deste artigo.
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