terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Problemas no paraíso

Um conhecido meu que antes tinha vivido no Luxemburgo e mudado para Paris por não gostar do Grão-Ducado decidiu voltar a viver no pequeno país junto ao Mosela. Ao saber do seu regresso, um amigo comentou-o de forma taxativa: “Pois claro! Acontece a todos, saem daqui mas acabam sempre por voltar a este paraíso!”

Nunca me ocorreria descrever o Luxemburgo como um paraíso, mas entendo o que o meu amigo quis dizer – é um sítio confortável, com baixas taxas de criminalidade, e onde é possível levar uma vida bem remunerada e dedicada pachorrentamente ao consumo. Este modus vivendi cristaliza-se em volta de uma cidade, a pequena capital, com uma alta qualidade de vida, emprego para todos, escolas, hospitais e parques. Tudo graças a um cuidadoso segredo bancário e um discreto e bem-sucedido sector financeiro.
O caso, no entanto, passou-se há mais de uma década. Hoje, o meu amigo já não olha para o Luxemburgo como um éden, nem o modelo do país como aquele capaz de proporcionar amanhãs que cantam. Vem tudo isto a propósito da divulgação, esta semana, do ranking das cidades com maior qualidade de vida para expatriados, elaborado anualmente pela consultora Mercer. O Luxemburgo aparece em 19.º lugar (entre 221 cidades de todo o mundo), a mesma posição de 2011; a cidade beneficia da alta pontuação obtida em critérios como “estabilidade e segurança pessoal”, onde aparece em primeiro. Viena, Áustria, é a cidade que encabeça a lista, que continua a ser dominada pela Europa – das 25 melhores cidades, nada menos que 15 encontram-se no nosso continente, que também domina o novo sub-ranking de infraestruturas.

Mas por quanto tempo? Nas entrelinhas, é possível ler já uma certa decadência da posição europeia. Atenas é a pior colocada do continente, em 84.º lugar e sempre perdendo posições; outras cidades da periferia, como Lisboa, Madrid ou Dublin, também vão descendo no ranking de forma acelerada (e entre outras razões, pelo recrudescimento da criminalidade). E se as infraestruturas das cidades europeias são em geral invejáveis, com sistemas de transporte em massa e abundantes piscinas cobertas, também é verdade que há anos que não existe expansão significativa das mesmas; poucas cidades da Europa constroem hoje linhas de metro, ou novas estradas de forma a melhorar o trânsito. Em compensação, o ritmo a que novas estruturas aparecem nos países asiáticos é quase frenético...

Mesmo no tal paraíso grã-ducal, a sensação presente é de um certo indefinível mas inegável mal-estar. As boas notícias escasseiam, a praça financeira tem sofrido alguns sustos, o que resta da siderurgia está permanentemente ameaçado, o Estado entrou numa espiral de cortes e está menos disponível para ser o tradicional suporte da economia, enquanto se multiplicam os apelos de algumas autoridades para que os portugueses deixem de engrossar as fileiras dos novos imigrantes que chegam ao país. Será sustentável que esta pequena  cidade sem massa crítica se mantenha como um dos melhores 20 locais para se viver no mundo? Poderá a Europa, que agora parece não mais fazer que gerir a estagnação, continuar a servir de farol ao mundo ou teremos de aceitar uma degradação dos nossos padrões, da nossa riqueza, da nossa forma de viver? Estamos a dar a mesma resposta há quatro anos, e ela não é agradável.

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