Nunca me
ocorreria descrever o Luxemburgo como um paraíso, mas entendo o que o meu amigo
quis dizer – é um sítio confortável, com baixas taxas de criminalidade, e onde
é possível levar uma vida bem remunerada e dedicada pachorrentamente ao
consumo. Este modus vivendi
cristaliza-se em volta de uma cidade, a pequena capital, com uma alta qualidade
de vida, emprego para todos, escolas, hospitais e parques. Tudo graças a um
cuidadoso segredo bancário e um discreto e bem-sucedido sector financeiro.
O caso, no
entanto, passou-se há mais de uma década. Hoje, o meu amigo já não olha para o
Luxemburgo como um éden, nem o modelo do país como aquele capaz de proporcionar
amanhãs que cantam. Vem tudo isto a propósito da divulgação, esta semana, do ranking das cidades com maior qualidade
de vida para expatriados, elaborado anualmente pela consultora Mercer. O
Luxemburgo aparece em 19.º lugar (entre 221 cidades de todo o mundo), a mesma
posição de 2011; a cidade beneficia da alta pontuação obtida em critérios como
“estabilidade e segurança pessoal”, onde aparece em primeiro. Viena, Áustria, é
a cidade que encabeça a lista, que continua a ser dominada pela Europa – das 25
melhores cidades, nada menos que 15 encontram-se no nosso continente, que também
domina o novo sub-ranking de
infraestruturas.
Mas por quanto
tempo? Nas entrelinhas, é possível ler já uma certa decadência da posição
europeia. Atenas é a pior colocada do continente, em 84.º lugar e sempre
perdendo posições; outras cidades da periferia, como Lisboa, Madrid ou Dublin,
também vão descendo no ranking de
forma acelerada (e entre outras razões, pelo recrudescimento da criminalidade).
E se as infraestruturas das cidades europeias são em geral invejáveis, com
sistemas de transporte em massa e abundantes piscinas cobertas, também é
verdade que há anos que não existe expansão significativa das mesmas; poucas
cidades da Europa constroem hoje linhas de metro, ou novas estradas de forma a
melhorar o trânsito. Em compensação, o ritmo a que novas estruturas aparecem
nos países asiáticos é quase frenético...
Mesmo no tal
paraíso grã-ducal, a sensação presente é de um certo indefinível mas inegável
mal-estar. As boas notícias escasseiam, a praça financeira tem sofrido alguns
sustos, o que resta da siderurgia está permanentemente ameaçado, o Estado
entrou numa espiral de cortes e está menos disponível para ser o tradicional
suporte da economia, enquanto se multiplicam os apelos de algumas autoridades
para que os portugueses deixem de engrossar as fileiras dos novos imigrantes
que chegam ao país. Será sustentável que esta pequena cidade sem massa crítica se mantenha como um
dos melhores 20 locais para se viver no mundo? Poderá a Europa, que agora
parece não mais fazer que gerir a estagnação, continuar a servir de farol ao
mundo ou teremos de aceitar uma degradação dos nossos padrões, da nossa
riqueza, da nossa forma de viver? Estamos a dar a mesma resposta há quatro
anos, e ela não é agradável.
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