Sendo uma língua
historicamente tão importante (a sétima mais falada em todo o globo, nunca é
demais recordá-lo), é natural que o português tenha emprestado ao mundo algumas
palavras hoje universais. Muitas destas provêm do Brasil, como “papagaio” ou
“guaraná”, outras da miscigenação característica do império, como “crioulo”,
outras ainda remetem para períodos negros da nossa História – não é um facto
muito conhecido entre nós, mas “auto-de-fé” é comummente compreendido nas
outras línguas ocidentais. Para equilibrar, há também palavras portuguesas
universais que afagam e acariciam, como “bossa nova”.
Paralelamente,
também o alemão emprestou o seu próprio conjunto – reduzido, que as características intrínsecas da língua alemã
lhe retiram universalidade – ao léxico mundial. Muitas dessas palavras advêm do
campo da filosofia e são impronunciáveis (é mais fácil escrever do que dizer “weltanschauung”), outras reflectem o
passado guerreiro do país, como “blitzkrieg”.
Para mim, no entanto, nenhuma palavra é tão interessante como schadenfreude: o sentimento de alegria perante
a desgraça alheia. Um prazer inconfessável, e no entanto tão humano; um
conceito que na rígida língua germânica pode ser expressado recorrendo a uma
única palavra. Meio a sério meio a brincar, podem ser acrescentadas mais
algumas: “Schadenfreude é a alegria
mais bela, já que vem de coração”.
É irónico que a schadenfreude tenha sido inventada na
Alemanha – pois é daí que chegam as notícias que provocam uma certa alegria
proibida pelo infortúnio alheio: a economia alemã, suposto motor de um espaço
económico europeu deprimido, está a abrandar. No último trimestre de 2012,
regrediu mesmo (0,5 pontos percentuais), e as perspectivas para 2013 são
incertas. Sim, é óbvio que à primeira vista isto são más notícias para a Europa
e em particular para Portugal – que depende em grande parte do grande mercado
alemão para exportar os seus produtos. Mas o abrandamento do baluarte da
austeridade, o país que tem a prerrogativa de ditar a política económica do
continente – repleta de opções erradas tomadas no momento errado, e que nos
está a fazer sofrer, a quase todos, muito mais daquilo que seria necessário, ao
mesmo tempo que nos atola numa espiral destrutiva que torna a recuperação muito
mais difícil enquanto beneficia para si próprio de condições muito mais
favoráveis dos mercados, incluindo taxas de juro negativas – pode vir a ter o
condão de finalmente incutir algum bom-senso económico na equipa da
primeira-ministra Merkel.
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