terça-feira, 15 de janeiro de 2013

O mundo fervilhante dos telefones móveis

Depois de uma noite de copos em 1909, o poeta italiano Marinetti escreveu: “Nós estamos no promontório extremo dos séculos!... Por que haveríamos de olhar para trás, se queremos arrombar as misteriosas portas do Impossível? O Tempo e o Espaço morreram ontem. Nós já vivemos no absoluto, pois criámos a eterna velocidade omnipresente”. Este era o ponto 8 (em 20) do Manifesto Futurista, que criou uma nova escola artística de ruptura radical (até porque preconizava a destruição dos museus...) com as correntes vigentes até aí. O Futurismo teve grande influência nas artes, mas a sua aplicação hoje, mais de um século depois, está na tecnologia. E nada melhor para o lembrar que o início de um novo ano, altura boa para balanços e previsões.

Esta é também a altura em que Las Vegas tenta esquecer o seu triste lado de capital mundial do kitsch e do desperdício de água, engalanando-se para receber a CES, a grande feira de eletrónica de consumo. 3000 expositores apresentam as novidades tecnológicas do amanhã que podemos comprar já hoje e rapidamente se tornarão símbolos do ontem – afinal, vivemos na eterna velocidade omnipresente. A CES, que começou por ser uma montra da última palavra em áudio e vídeo, rendeu-se aos computadores na década de 70; hoje em dia, está centradíssima nos telemóveis, porque é nesta área que se concentra toda a verdadeira inovação do ramo. O discurso de abertura da feira (a ser proferido sensivelmente ao mesmo tempo que estas linhas são publicadas) já não provem da Microsoft, que nem sequer estará presente no certame, mas sim da Qualcomm – uma pequena companhia que fabrica processadores para smartphones.

Que nos trará 2013 na esfera da tecnologia móvel? O lucrativo mercado que criou dois pesos-pesados, Samsung e Apple, está a encorajar as altas ambições de outros novos e velhos contendores: HTC, Nokia, Sony e Motorola, mas também a Amazon e talvez mesmo o Facebook preparam os seus próprios modelos de telefone. Em sistemas operativos, a dominação global do Android (que equipa 75% dos smartphones) não deverá sofrer contestação dos restantes sistemas, sejam eles iOS, Windows 8 ou Blackberry 10; mas a entrada de novos sistemas open source, o Firefox para telefones e o Tizen, promete libertar os utilizadores das grilhetas associadas a grandes corporações.

2013 será também o ano em que os pagamentos por telefone graças à tecnologia NFC, já presente em vários modelos Android mas não no iPhone, se começarão a banalizar. Mas o mais interessante estará porventura no aparecimento de telemóveis flexíveis: a tecnologia para criar ecrãs que se dobram como uma folha de papel já existe (baseia-se num díodo orgânico), e tanto a Nokia como a Samsung parecem apostadas em criar o primeiro modelo com esta base. A companhia finlandesa também deixou toda a gente boquiaberta em 2012 ao lançar um modelo com uma máquina fotográfica capaz de atingir 41 Mpixeís de definição – 2013 poderá trazer aos telefones câmaras 3D, e inclusive uma máquina desenvolvida pela Toshiba que “adivinha” a nossa intenção e dispara ainda antes de carregarmos no botão...

Toda esta inovação começa a ter vontade de transbordar do nosso telefone para outros objectos que utilizamos. 2013 pode também ser o ano dos relógios de pulso, sapatos, calças ou óculos inteligentes, cheios de sensores e informação útil. O limite, aqui, é mais uma vez o céu; nem o Movimento Futurista alguma vez imaginou que as mudanças se processassem a tamanha velocidade.

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