Passaram menos de
quatro anos. Muita coisa mudou na Europa – se há uma constante da nossa época,
é precisamente a velocidade crescente da mudança – e é absolutamente
extraordinário como, em tão pouco tempo, a Alemanha passou de força dominante a
potência hegemónica. Hoje, nada se faz de importante na Europa contra a opinião
da sra. Merkel (eleita pela Forbes como “a segunda pessoa mais poderosa do
mundo”) e do seu séquito. As consequências para a Europa estão à vista de
todos, e ainda nem iniciámos o terceiro mandato de uma chanceler que parece
imparável, rodeando as suas decisões de uma aura de inevitabilidade. E não
admira: cada obstáculo que aparece no seu caminho, despertando justas ilusões
em todos nós que sentimos que esse caminho leva à lenta mas segura morte da
Europa, acaba por ser neutralizado quando não triturado.
Os restantes
europeus ficam agora sem quaisquer ilusões quanto a uma Alemanha
auto-redentora: nem uma vírgula vai mudar na forma paternalista como o país, aquele
que mais beneficia com o euro e taxas de juro baixíssimas, vai lidar com os
seus parceiros europeus, sobretudo os da periferia. Sobre obrigações europeias,
nem uma palavra; mas sobre o acordo de comércio livre com quem nos espia, os
“parceiros” americanos, aí sim há regozijo e entusiasmo. E, numa medida quase
insultuosa mas realmente simbólica, as autoestradas passarão a ser pagas...
para todos os não-alemães.
A Alemanha é
parte do problema europeu, não é a solução. E, embora a tomada de consciência
colectiva deste facto esteja distante, a Alemanha precisa mais da Europa que a
Europa da Alemanha. Compete a essa mesma Europa demonstrá-lo. É necessário
mudar, não a Alemanha, mas sim contra a Alemanha. Não é possível, nem desejável
– muito menos necessário – viver quatro anos mais apenas a gerir a decadência e
assistar à ascensão de um novo império egoísta.
Sem comentários:
Enviar um comentário