segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Melhor fora que dentro

“Apanhem Banksy!”, chapou na sua primeira página o New York Post, tablóide sedento de vingança, na semana passada. Está bem, mas quem é Banksy? O problema é que ninguém sabe, e muito menos a polícia. Convenhamos que só pelo nome se torna um pouco mais difícil encontrá-lo, quanto mais apanhá-lo.

Banksy é um artista, ou um activista, ou um grafiteiro, ou apenas uma esperta construção de marketing. Ou então todas estas coisas ao mesmo tempo, ou então nenhuma. Supostamente vem de Bristol, Inglaterra, ninguém conhece o seu aspecto ou verdadeiro nome, e pinta paredes; imagens irónicas, muitas vezes monocromáticas, envolvendo-se com aquilo que as rodeia e apelando à reflexão – e sempre que podem, à subversão. Como o grafito que mostra um macaco de laboratório, supostamente um animal que apenas cumpre o que lhe mandam, envergando um cartaz que diz “Keep it real” – a mesma frase que é quase marca geracional de milhões de adolescentes americanos.

Banksy não gosta do mercado da arte nem dos seus lucros pré-fabricados, baseados em valorações subjectivas. Também não gosta das suas regras, por isso subverte-as: no seu sítio web há uma “loja”, mas tudo o que lá está é grátis. O apreciador de arte pode descarregar a obra do artista e reproduzi-la as vezes que quiser, numa parede, numa t-shirt ou numa caneca de café. Banksy poderia ganhar rios de dinheiro, já que se tornou em fenómeno global; por vezes paredes (inteiras) com os seus grafitos aparecem em leilão sem a sua autorização – pelo menos é essa a história oficial – e pela última obra nesta situação, por exemplo, o comprador pagou um milhão de euros. Em contraste com esta soma, o próprio Banksy montou no sábado uma banquinha em pleno Central Park e começou a vender, disfarçado com um boné e óculos, os seus originais por uns irrisórios 45 euros cada um. Quase ninguém os quis e, ao final do dia, o próprio artista só tinha arrecadado 300 euros.

Banksy adora dismistificar estas hipocrisias paradoxais da arte – já tinha sido essa a intenção ao realizar o seu aborrecido documentário em que glosava a táctica utilizada pelos museus que obrigam os visitantes a passar pela loja de lembranças antes de sair do edifício. Durante todo este mês de Outubro, o artista anda por Nova York a desvendar um novo grafito/obra por dia, num gigantesco jogo do rato e do gato com as autoridades. Chamou a esse projecto “Better Out Than In”, melhor fora que dentro, porque é fora dos vetustos museus e próxima das pessoas, na rua, no chão e nas paredes que a arte (também) deve andar.  Mal aparecem, as pinturas de rua tornam-se um instantâneo sucesso público e uma atracção turística; e como reagiu então o multimilionário que é presidente da câmara da cidade mais cosmopolita e mais artística do mundo a esta boa publicidade a Nova York? 
Pois bem, como um provinciano alcalde da aldeia mais recôndita. “Banksy é um vândalo e o graffiti representa a perda de controlo. Eu defendo as artes, mas acho que há lugares para a arte e lugares sem arte”, disse Bloomberg, provando simultaneamente que Banksy pôs mesmo o dedo na ferida. Bloomberg ainda não entendeu nada. Todos os lugares são lugares para a vida, e a arte, que a imita, está na rua da grande cidade.

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