A Majora chegou a
empregar, numa fábrica fervilhante de actividade, 130 pessoas; hoje, com o
despedimento dos últimos 30 empregados, o edifício está vazio, esperando o
golpe de misericórdia. Inquiridos sobre as razões de uma decadência tão
abrupta, quem lá trabalhou aponta “esta crise, que faz as pessoas cortarem no
supérfluo, a começar pelos jogos. E além disso os portugueses não têm tradição
de jogos de tabuleiro como os outros europeus”.
Já se sabe que tanto
a crise como os portugueses têm as costas largas, logo esta explicação é
confortável. Mas errónea. Os portugueses gostam de diversão, não têm é culpa se
uma empresa não sabe preencher os seus anseios. Acresce que os jogos em geral têm
uma elasticidade bastante baixa que, em alguns contextos, chega mesmo a ser
positiva; significa isto que quando os consumidores sofrem uma redução no seu
rendimento compram mais jogos (e não
menos), dado que estão a investir num produto que os fará passar um tempo
poupadinho recolhidos em casa, em vez de em bares ou restaurantes. Na verdade a
lenta descida aos infernos da Majora começou bem antes de 2008, ano fatídico de
explosão da “crise”. A empresa estagnou e viu-se completamente ultrapassada
pelas mudanças que o mercado lhe pedia. Enquanto a esmagadora maioria dos
consumidores prefere, e isto há mais de 20 anos, jogar em mundos virtuais computadorizados,
a companhia insistiu teimosamente em agir como sempre tinha agido: confiando o
seu destino a produtos que tinham sido um sucesso infantil há décadas. Nos
últimos meses ainda lançou uma aplicação para smartphones – foi demasiado
pouco, demasiado tarde.
A comparação com
outra empresa familiar de brinquedos, a Lego, é gritante. Esta empresa criada
por um carpinteiro dinamarquês nunca se deitou à sombra do sucesso dos seus
tijolos de plástico e, atenta à mudança constante no ambiente de negócios, não
mais parou de diversificar: o primeiro jogo de computador Lego, por exemplo,
foi logo lançado em 1997 e desde aí a marca já produziu nada menos de 46,
cobrindo todas as plataformas. O primeiro livro associado surgiu pouco depois,
seguido pelo primeiro de 23 filmes usando os produtos da marca (e a estrear em
2014 há o “Filme da Lego”, já em produção), para não falar em seis parques de
diversões espalhados pelo mundo. Uma marca valiosíssima apoiada em valores
éticos (como a recusa de temas abertamente bélicos) e de obsessão pela
excelência: o lema da empresa, adoptado pelo fundador, continua a ser “Mesmo o
melhor nunca será suficientemente bom”.
Duas empresas
familiares de brinquedos criadas do nada na década de 40, obtendo as duas um
sucesso demolidor. E em seguida, caminhos opostos: uma história de sucesso,
outra de fracasso. Aprenda o próximo empreendedor com energia as lições da Lego
e da Majora, e talvez daqui a uns anos estejamos a falar não de mais uma
falência, mas de uma nova marca portuguesa global.
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