Elop, um homem
redondo e de aparência um tanto alarve, foi escolhido em 2010 para dar um rumo
novo ao gigante europeu de tecnologia. O próprio facto de ser o primeiro gestor
não-finlandês da Nokia era suposto simbolizar o corte com a confortável
estratégia de sempre – vender telefones na sua maioria relativamente baratos e
com poucas características mas sólidos, fiáveis e óptimos para fazer chamadas. Era
dessa forma que uma companhia europeia esmagava um dos mais apetecíveis
mercados globais – e digo esmagava pois isso significa que vendia mais do dobro
dos telefones do seu mais directo perseguidor, a Samsung. Só em telefones, a
Nokia tinha receitas anuais de 29 mil milhões de euros; e mesmo só contando smartphones, um produto no qual a
empresa tinha sido pioneira mas não estava a responder ao sucesso do iPhone, os
resultados continuavam excelentes – 35% do mercado e 104 milhões de smartphones vendidos, mais do que Apple
e Blackberry juntas! Em 2010, era esse o presente da companhia – e todos os
analistas concordavam que, tomando as boas decisões, a liderança seria para
manter.
Entra Stephen
Elop, contratado à Microsoft. Poucos meses depois, em Fevereiro de 2011,
escreve uma mensagem a todos os empregados em que comparava a Nokia a uma
“plataforma em chamas”, prosseguindo num tom em que autoflagelava a empresa,
líder absoluta de mercado, para ao mesmo tempo elogiar Apple e Google, os novos
concorrentes. O texto tornou-se histórico pelas piores razões: destruiu a moral
da companhia e a confiança de muitos dos seus clientes. Foi uma verdadeira
profecia que se auto-realiza, aquilo que é designado de “efeito Ratner” (nome
de um vendedor de jóias que em 1991 gozou publicamente com os seus produtos e
quase levou a companhia à falência com um simples discurso).
Mas Elop ainda
não tinha terminado o serviço que lhe tinha sido encomendado. A Nokia tinha
passado os últimos anos a investir no desenvolvimento de um sistema operativo
próprio, o MeeGo, para concorrer com Android e iOS. A meio de 2011, por entre
grande excitação e críticas especializadas muito favoráveis, a Nokia apresenta
o N9 – o primeiro modelo a utilizar o novo e próprio sistema; e no dia
seguinte, o presidente da companhia, o americano Elop, anuncia que não haverá
mais nenhum telefone MeeGo, pois a Nokia iria comprar o Windows Phone da
Microsoft – um péssimo sistema que não estava sequer pronto. O N9 foi morto à
nascença e a Nokia não teve durante quase um ano nenhum smartphone com Windows
para vender. Agora, apenas três anos depois da chegada de Elop, eles existem –
chamam-se Lumia – e a empresa vendeu uns míseros 7 milhões de unidades,
perdendo dinheiro em cada um deles; de líder mundial, passou a ocupar a nona
posição dos fabricantes, com 3% do mercado; e mais importante, tem agora
prejuízos consideráveis e cada acção vale um décimo do que valia. Arruinada a
empresa, foi fácil à Microsoft comprar os ossos que restam por tostões (menos
do que foi pago, há dois anos, pela Skype); e Elop, finalmente despedido,
leva para casa como recompensa por ter
destruído uma empresa fantástica um “pára-quedas dourado” de 25 milhões de
dólares.
Eu disse para
casa? Na verdade ele volta para a Microsoft, o mesmíssimo império a quem Elop
acaba de oferecer a antigamente orgulhosa Nokia, agora destituída de valor, de
patentes e de pessoas. Fecha-se o círculo, e fecham-se-nos os olhos de
vergonha.
Sem comentários:
Enviar um comentário